Texto publicado no Homo Literatus em 13 de novembro de 2013.
Quando se assiste a um jogo de futebol, as emissoras televisivas
conseguem mostrar um lance em seus mínimos detalhes. O momento do passe,
do chute, o salto do goleiro, o carrinho do zagueiro, a bola a estufar
as redes. Para os fanáticos pela pelota, a câmera em slow motion é
algo para se apreciar tal fosse uma pintura. A tecnologia é, às vezes,
uma benção. Mas dificilmente essas imagens em câmera lenta conseguirão
superar a crônica esportiva na descrição dos movimentos que antecedem
uma jogada de efeito, um chapéu, um drible por entre as pernas, a
pedalada, a cavadinha que desmonta um goleiro.
Para os boleiros literários, as páginas de esporte são um prato cheio
aos domingos e segundas-feiras, com análises, pranchetas, críticas e
palpites. Juca Kfouri e seus textos políticos, Paulo Vinícius Coelho e
seus esquemas táticos, Tostão e sua obsessão pelo futebol arte. Já ouvi
alguns dizerem que a crônica seria um gênero literário menor. Discordo. É
graças a ela que muitos contos (esse considerado pelos preconceituosos
um gênero maior) futebolísticos foram concebidos.

"Eles ganharam o cara ou coroa, escolheram o campo. Pirulito deu a saída, atrasando para mim, enfiei de curva para o Gabiru na ponta, mas a bola foi no pé do adversário. Corri pra ver se recuperava a jogada. Enquanto eles triangulavam em cima de mim eu pensava, porra, comecei enfeitando, agora estou igual a bobo na roda, nem sei o que estou fazendo."

"Não que Zé Augusto quisesse desrespeitar o Castilho, mas respeito demais também não tinha, pois não acompanhava o futebol profissional de perto. As pernas abertas do outro estavam pedindo e o Zé enfiou a bola entre elas, porque era o caminho mais fácil para o gol."
Com detalhado slow motion lírico, Rubem Fonseca e Sérgio
Sant’Anna fizeram belas jogadas individuais, pois foram bem servidos por
pontas de lança como Juca, PVC e Tostão, que, se não dão show, garantem
o bom resultado das narrativas jornalísticas todas as semanas, dando
chapéu naqueles que ainda não acreditam no valor literário da crônica
esportiva.
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