Minha cabeça oca é uma máquina de produzir pensamentos. Por algum motivo que desconheço, não consigo relaxar meu cérebro a ponto de me dedicar há alguns momentos de ócio, o pensar em nada, apenas olhar para o vazio e ficar em estado vegetativo induzido. Concentrar-me em uma única coisa também é um desafio para mim. Enquanto estou trabalhando, por exemplo, não fico focado só naquilo que executo.
Minha mente viaja para a faculdade e seus afazeres; para o meu quarto, onde encontram-se devidamente estocados todos os meus livros e filmes que ainda não li ou assisti; enfim, quando me dou conta, estou mal humorado, pois vejo que tenho pouquíssimo para fazer tanta coisa. O mesmo ocorre agora, enquanto escrevo esse post, pois estou cercado por todas essas edições e DVD's. A tentação de assistir e ler de tudo um pouco é grande.
E durante essa semana, ocorreu mais um caso que está fazendo minha mente ferver mais que de costume. Trabalho há sete anos no segmento metalúrgico. Não é a paixão da minha vida, mas tive de ingressar nesse ramo meio que por falta de opção, pois na região onde moro é a mais forte área para se trabalhar, por conta da quantidade de empresas, e precisava ter meu ganha pão. Depois de me diplomar com técnico em mecânica (o máximo que consegui aturar), fui fazer cursinho para tentar vaga em uma universidade pública e estudar algo que eu gostasse. Acabei por ingressar no curso de Letras, pois abrange muitas áreas do meu interesse.
Óbvio que seria muito difícil conciliar isso com a área na qual trabalho. Mesmo não tendo a mecânica como minha meta de vida, acabei por adquirir um certo conhecimento na área. Mas infelizmente aço e literatura não caminham juntos. Era o que eu achava.
Nessa empresa em que trabalho, sempre há a abertura de vagas internas. Quando isso ocorre, descreve-se os requisitos para a vaga. Na última sexta-feira, enquanto olhava o mural de oportunidades, reparei em uma que nunca havia visto em meio às vagas, em sua esmagadora maioria, quase sempre para a engenharia. Tratava-se do cargo de editor técnico, que pedia curso em mecânica, inglês intermediário e conhecimentos básicos em pacote Office. A sua função é editar e divulgar textos relacionados a determinados produtos fabricados pela corporação. Quase não acreditei. Finalmente poderia juntar o útil ao agradável. Trabalhar com palavras, que é uma das minhas paixões e ao mesmo tempo permanecer nessas excelente empresa.
Mas havia um porém. Essa vaga é para uma outra unidade da empresa, que fica bem distante de onde moro. Normalmente eu iria com certeza para lá. O salário é maior, bem como a cidade. Conhecer lugares e pessoas diferentes é algo que sempre me atraiu. Um desafio interessante. O problema é que estou no terceiro ano de minha querida faculdade de Letras, com um projeto de pesquisa em literatura em andamento e me deliciando com a aprendizagem de literatura e língua alemã. Para ir para essa empreitada profissional, teria de trancar o curso por tempo indeterminado. Então, meu caro leitor, você já pode ter ideia de como minha já conturbada mente anda.
Se eu trancar minha matrícula, não se voltaria um dia a abri-la. Minha mente já trabalhou a possibilidade de fazer outro curso, em outra faculdade, mesmo que particular. Mas aí já seria outro projeto interrompido, em meio a tantos que já abortei. E já não sou tão jovem para ficar me dando ao luxo de voltar atrás em meus caminhos para tomar outro.
Às vezes me esqueço de que a vida é assim mesmo, cheia de caminhos que aparecem do nada. Não há como planejar o amanhã. Por agora, apenas pensarei sobre o que fazer. Só espero ter a devida sabedoria para fazer a escolha certa quando chegar a hora.