Recentemente, adquiri uma das invenções que mais simbolizam a pequeneza portátil que as coisas estão tomando com o avanço da tecnologia. O iPod Shuffle é uma pequena vitrola que pode ser levada a qualquer lugar, discretamente anexada a qualquer parte da vestimenta de quem o utiliza, com fones confortáveis que nos isolam do mundo exterior enquanto fazemos exercícios, lemos um jornal, uma revista, um livro ou simplesmente tiramos um tempo para relaxar e ouvir nossas músicas preferidas em paz. Os fones acoplados aos ouvidos são uma espécie de bloqueio social a qualquer intruso que deseje atrapalhar aquele momento de ócio recreativo.
Em contrapartida, há alguns meses estive a procura de uma vitrola clássica. Não uma vitrola propriamente dita, mas um toca-discos, com caixas de som enormes, que reproduzissem com perfeição os graves e agudos de bandas como Led Zeppelin ou Deep Purple ou Metallica, coisa que nenhum fone de ouvido, por mais moderno que possa ser, conseguiria emitir. Iniciar uma coleção de vinis é algo que me apetece a tempos. Acho bonito uma estante cheia desses objetos clássicos e visualmente atrativos. O problema, no entanto, foi o espaço físico. Não possuo uma área apropriada para acoplar mais uma bugiganga, pois esse pouco espaço disponível já está tomado por livros, papéis, jornais, revistas, quadrinhos, enfim, uma verdadeira esbórnia convidativa a traças e qualquer outro ser que goste de roer papel.
Li, durante essa semana, uma narrativa produzida por uma blogueira em que duas personagens se encontram em uma livraria. Enquanto a protagonista feminina tomava um café e lia um livro, com fones de ouvido devidamente posicionados em suas orelhas, um rapaz se aproxima e iniciam uma conversa sobre literatura e música. Ele a leva para sua casa com a finalidade de apresentá-la a sua coleção de vinis, já que ela própria possuía uma. O final dessa pequena história todos devem saber.
Essa situação ficcionalmente hipotética me levou a pensar sobre esses hábitos cada vez menos regulares. Colecionar coisas é uma virtude que está ficando cada vez mais no passado. Baixa-se facilmente, com um apertar de botão, qualquer filme ou música que se deseje, gratuitamente, em poucos minutos. De fato, são facilidades que muito ajudam, pois geram uma considerável economia financeira. Mas quem é que vai mostrar uma coleção de arquivos em MP3 ou RMVB a alguém? Quem passará uma tarde inteira tirando o pó e rememorando a aquisição desses itens cibernéticos?
Entre prós e contras, abstrações e coleções, o passado se apresenta como algo cada vez mais distante e poético, o presente com hábitos simples que se tornam cada vez mais raros e singulares e o futuro...
E o futuro?