Gosto muito de cinema. Não sou um cinéfilo do tipo cult, que gosta de filmes pseudointelectuais de diretores pseudocomplicados. Recentemente comecei a assistir alguns feitos por essa estirpe, mas ainda prezo por um bom filme violento e movimentado.
E o que mais me chama a atenção nesses longas são as câmeras, que são os olhos do diretor. Uma cena rápida, que dá enfoque em pequenos detalhes enquanto a ação e desenvolvida, é algo que sem dúvida muito me chama a atenção. Não à toa sou fanático pelos filmes de Quentin Tarantino e Clint Eastwood, que fazem de suas câmeras os seus próprios olhos.
Meu fascínio por esses aparelhos que hoje apresentam uma composição tecnológica além do imaginável se reflete em outros campos artísticos, mais especificamente na literatura e nas histórias em quadrinhos. Um bom narrador, que saiba habilmente manusear sua câmera literária, pode fazer de um conto ou romance algo excepcional. O mesmo vale para o desenhista que tem talento o suficiente para filmar o que o argumentista tem em mente.
Raduan Nassar, que em "Lavoura arcaica", com sua câmera poética, nos faz ver uma sucessão de cenas enoveladas que traduzem os perfeitamente os sentimentos das personagens. Guimarães Rosa também opera habilmente o seu aparelho narrador, que em "O duelo" faz com que seu leitor se sinta dentro de um filme de faroeste dos bons.
Nas histórias em quadrinhos, o melhor câmera que conheço é certamente Dave Gibbons, que ao lado do exímio roteirista Alan Moore, em "Watchmen", consegue cativar eternamente quem entra em contato com a obra, pois opera como ninguém a sua máquina filmadora de nanquim e papel, com enfoques e distanciamentos de fazer qualquer Steven Spielberg da vida morrer de inveja.
Cenas rápidas que são traduzidas por palavras, imagens que traduzem textos inteiros, desenhos que representam clímax, enfim, são maneiras de expressar ideias que podem ser convertidas em criações verdadeiramente poéticas (olha a poesia aí de novo!). As câmeras são janelas que mostram as mentes de seus narradores, diretores ou roteiristas. Se o seu operador souber manuseá-la, poderá mostrar ao público o quão caótico e criativo é o ambiente em sua cabeça. E, para mim, quanto mais insano, melhor.