sexta-feira, 23 de março de 2012

Luz, câmera, (narr)ação!

Gosto muito de cinema. Não sou um cinéfilo do tipo cult, que gosta de filmes pseudointelectuais de diretores pseudocomplicados. Recentemente comecei a assistir alguns feitos por essa estirpe, mas ainda prezo por um bom filme violento e movimentado. 

E o que mais me chama a atenção nesses longas são as câmeras, que são os olhos do diretor. Uma cena rápida, que dá enfoque em pequenos detalhes enquanto a ação e desenvolvida, é algo que sem dúvida muito me chama a atenção. Não à toa sou fanático pelos filmes de Quentin Tarantino e Clint Eastwood, que fazem de suas câmeras os seus próprios olhos.

Meu fascínio por esses aparelhos que hoje apresentam uma composição tecnológica além do imaginável se reflete em outros campos artísticos, mais especificamente na literatura e nas histórias em quadrinhos. Um bom narrador, que saiba habilmente manusear sua câmera literária, pode fazer de um conto ou romance algo excepcional. O mesmo vale para o desenhista que tem talento o suficiente para filmar o que o argumentista tem em mente.

Raduan Nassar, que em "Lavoura arcaica", com sua câmera poética, nos faz ver uma sucessão de cenas enoveladas que traduzem os perfeitamente os sentimentos das personagens. Guimarães Rosa também opera habilmente o seu aparelho narrador, que em "O duelo" faz com que seu leitor se sinta dentro de um filme de faroeste dos bons. 

Nas histórias em quadrinhos, o melhor câmera que conheço é certamente Dave Gibbons, que ao lado do exímio roteirista Alan Moore, em "Watchmen", consegue cativar eternamente quem entra em contato com a obra, pois opera como ninguém a sua máquina filmadora de nanquim e papel, com enfoques e distanciamentos de fazer qualquer Steven Spielberg da vida morrer de inveja.

Cenas rápidas que são traduzidas por palavras, imagens que traduzem textos inteiros, desenhos que representam clímax, enfim, são maneiras de expressar ideias que podem ser convertidas em criações verdadeiramente poéticas (olha a poesia aí de novo!). As câmeras são janelas que mostram as mentes de seus narradores, diretores ou roteiristas. Se o seu operador souber manuseá-la, poderá mostrar ao público o quão caótico e criativo é o ambiente em sua cabeça. E, para mim, quanto mais insano, melhor.

domingo, 18 de março de 2012

Onde está a poesia?

Durante esse ano, as matérias relacionadas à literatura no meu curso de graduação em Letras serão basicamente sobre um gênero que particularmente sempre me causou algumas dores de cabeça. Nada contra os escritores e leitores que apreciam tal vertente, pelo contrário, admiro quem o entenda e consiga extrair de suas palavras o maior número de significados que muitas vezes não correspondem ao seus significantes. Ah, já ia me esquecendo. Refiro-me à poesia.

Já nessas primeiras semanas de aula aconteceram alguns debates em sala de aula, dos quais logicamente não participei. Os amantes de versos e estrofes deram diferentes pareceres sobre suas experiências poéticas, de como achavam profundas e tocantes as palavras escritas por esse ou aquele poeta ou que era impossível não se sentir tocado pelos apelos subjetivos daquele outro. Confesso que fiquei a boiar. Mas de tanto boiar, acabei por chegar a algumas (in)conclusões.

Durante essas aulas, aprendi que a poesia é tida como o processo de produção e o poema como o produto. Posso enxergar poesia em qualquer lugar. Mas isso dependerá de minha sensibilidade. O poema é reconhecido pela imagem, pelo som, pelo ritmo. Logo, não sou sensível a esse tipo de experiência. Soube também que alguns alunos acham que quem estuda a complexidade das Letras pressupõe-se adorador de poetas. Um tipo de ditadura? Luto contra ela.

Acho muito mais poético o conto literário. Alguns escritores como - cito aqui meus favoritos nesse ramo - Rubem Fonseca, Guimarães RosaEdgar Allan Poe Anton Tchekhov expressam, por meio de suas narrativas, histórias recheadas de simbolismos que, para mim, são muito mais fortes e (nem sempre) imediatos. Além disso, o conto possui o enredo, coisa que muitas vezes um poema não tem, pois é ligado à subjetividade de quem o escreve. O "contar histórias" é muito importante para minha cativação, entendimento e excitamento.

A poesia está inserida nos fatos do cotidiano? Do que se compõe a poesia? Onde está a poesia? Encontrarei a poesia? Quero encontrar a poesia? Não há uma resposta padrão. Quem sabe, depois de estudar todas as teorias que puder e entender o que os poetas dizem, eu possa dizer que a vi de relance. Ou que nunca a vi mais gorda.

P.S.: como puderam notar, atrasei o prazo de postagem, por motivos de dentro e fora da universidade. Espero não mais cometer tais atrasos. Agradeço a compreensão de meus fiéis leitores e seguidores.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Fragmentação das tarefas semanais

Enfim, começou meu ano acadêmico. Então, até o final do ano estarei envolvido com textos teóricos e ensaísticos ligados à linguística ou literatura, além de provas, seminários, pesquisas, trabalhos em grupo e etc. E, como nos dois últimos anos, estou fazendo de tudo para que eu não me complique com meus compromissos, o que faria eu ter de abandonar certos hábitos, como ler livros ou histórias em quadrinhos por minha conta, assistir filmes, ouvir um bom disco e, claro, escrever nesse espaço. Deixa-se claro que falhei nas últimas tentativas.

As tarefas são muitas. Além das leituras recomendadas vorazmente pelos professores a cada aula, estudo dois idiomas (inglês e alemão), que, para vingarem, precisam ser estudados regularmente. Para tanto, fragmentei meus dias em vários pequenos períodos, para que eu possa atender todas as demandas e recolher os possíveis dividendos.

Deverei, então, reservar um período cronometrado de mais ou menos vinte minutos, em meu horário de almoço, para leituras recreativas. Pode parecer um exagero, mas minha felicidade e bom humor dependem totalmente delas. Em meio à correria, corta-me o coração olhar para minha estante e ver tantos títulos à deriva, que não são lidos por possíveis atos indisciplinares de minha parte.

Dez minutos diários para o estudo dos idiomas acima citados, com a finalidade de aprimorá-los e fixá-los em minha mente. Somados, resultam em pelo menos uma hora de aprendizagem semanal individual, além das aulas regulares. 

Finais de semana, pelo menos durante o período em que o sol estiver a brilhar no céu, serão dedicados à leitura dos muitos e variados, além de complexos, textos acadêmicos. Poderia não ler todos, mas sim apenas aqueles com os quais eu mais me interessasse. Porém, essa atitude traria um desequilíbrio em meu boletim, o que me deixaria, deveras, entristecido. As noites podem ser reservadas para filmes ou qualquer outra forma de divertimento.

Corridas vespertinas no parque às segundas, quartas, sextas e sábados (podendo esses serem substituídos pelo domingo), para que minha recuperação de condicionamento físico seja mantida. Se há algo com o qual me encontro muito feliz no momento, é o meu recém adquirido hábito, como já cheguei a escrever nesse espaço, do famoso cooper. Mantê-lo é fundamental.

Encontrar brechas para manter esse blog ativo. 

E, por último, e essa é a mais difícil das tarefas, controlar meu stress.

Amém.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Sossego

Já há algum tempo tenho na mente a fixa ideia de abandonar a cidade e passar a morar em um local tranquilo, de preferência um sítio ou algo do tipo, com profissão igualmente pacata. Depois de todos esses anos trabalhando em um conturbado e barulhento meio industrial, prezo hoje em dia por sossego, ar puro, silêncio e ambientes com poucas pessoas.

Uma das coisas que me inspiraram a pensar dessa maneira foi um texto que li no ano passado, do articulista e ex-jogador de futebol Tostão, que escreve no jornal Folha de S. Paulo. Nessa coluna, ele relatava sua passagem pela Holanda durante as férias e que lá havia visto um homem que lhe causou inveja por conta de sua moradia: esse indivíduo tinha como moradia um simples barco, ancorado na beira de um rio. Lá, cultivava flores e tinha um notebook em sua mesa, além de ser brindado com um pôr do sol diariamente magnífico.

Depois de ler esse texto, construí, em minha cabeça, um lar que eu hoje em dia consideraria ideal: uma pequena casa em um pequeno sítio, onde haja fogão um bom fogão de lenha, rede e cadeira de balanço; para sobreviver, eu trabalharia como colunista para alguns jornais e revistas literárias, ganhando apenas o suficiente para manter uma boa biblioteca e um acervo de filmes e discos razoável; e, claro, um computador que me manteria conectado ao meu trabalho e me permitiria assistir aos acontecimentos do mundo de uma distância segura.

Podem me chamar de anti-social, mas esse é um mundo no qual eu viveria com enorme prazer, pois essa onda cibernética e avassaladora das redes sociais, em que tudo se renova de minuto a minuto, é algo que me fez perder um pouco de esperança na humanidade. Sei que elas têm sua importância, como eu já escrevi nesse espaço em outra oportunidade, mas isso não quer dizer que eu tenha sucumbido à elas.

Ah, já ia me esquecendo: para não dizerem que sou um ermita, eu poderia viver acompanhado de uma dama que também apreciasse esse sossego desassossegado.