Como já cheguei a comentar no post intitulado Da boate para o bar, sou uma pessoa que tem por natureza apreciar o sossego proporcionado por uma mesa de bar. Lá, podemos encontrar pessoas de diferentes gabaritos e com conhecimentos que, durante um prazeroso bate-papo regado a uma moderada dose de cerveja (sim, eu disse moderada, bêbados de plantão), podem nos indicar coisas que não conhecemos, assim como dissertar sobre assuntos que são do nosso interesse.
E nesse último final de semana, como é de praxe, desembarquei em um boteco até então por mim desconhecido, em uma cidade vizinha ao vilarejo onde moro. E, confesso, passei um bom espaço de tempo trocando ideias com uma pessoa recém apresentada a mim sobre uma forma de arte que considero como uma das mais instigantes do mundo: as histórias em quadrinhos. Discutimos a sua grandeza em comparação ao cinema e à literatura, assim como algumas adaptações frustradas para o primeiro. Adoro o cinema, mas alguns diretores não percebem que certas obras são inadaptáveis e acabam por meter os pés pelas mãos.
Como já relatei em outras oportunidades, eu praticamente fui alfabetizado pelos gibis assinados por Maurício de Souza. Logicamente tinha meus personagens prediletos (Cebolinha e Chico Bento ainda estão no meu rol de indivíduos fictícios preferidos), mas a Turma da Mônica em geral preencheu a maioria das tardes de minha infância. Com o passar do tempo, essa trupe passou a dividir minhas atenções com os super-heróis das consagradas editoras americanas DC e Marvel. Hoje, leio mais quadrinhos editados pela primeira.
Aquele diálogo boêmio entre nerds me inspirou a comentar e recomendar não todas, mas apenas três das obras consideradas como primas que fizeram parte daquela pauta, bem como sobre seus autores e o por quê de serem consideradas como tal.
A primeira é Watchmen, roteirizada e desenhada pelos ingleses Alan Moore e Dave Gibbons, respectivamente. Trata-se de uma obra clássica, dividida em doze edições, que, na minha opinião, mesmo os que não têm o hábito de apreciar histórias em quadrinhos deveriam devorá-la. Watchmen é considerada um marco, a linha divisória que separa uma fase de outra, pois Alan Moore tornou algo que até então era infantilizado pela sociedade em uma forma de expressão complexa, que aborda temas políticos, sexuais, sociais e filosóficos. Sua inspiração veio ao perceber que ele havia crescido, mas as histórias em quadrinhos não cresceram na mesma proporção. Resumindo, Moore as colocou no seu devido e merecido lugar. A arte de Gibbons é competente ao ponto de termos a impressão de que câmeras estão nos mostrando as imagens idealizadas no roteiro. Watchmen foi pessimamente adaptada para o cinema pelo diretor Zack Snyder. Defino assim tal versão porque a considero uma das obras impossíveis de verter para a sétima arte. Para aproximá-la do impacto que a versão impressa proporciona, seriam necessárias por volta de cinco horas de filme, algo praticamente inimaginável.
Sandman é, sem sombra de dúvidas, a segunda colocada em minha lista, perdendo apenas por saldo de gols para a acima citada. Mundialmente conhecida e assim como a anterior considerada um divisor de águas das histórias em quadrinhos, essa saga tem roteiro e criação do genial Neil Gaiman, que idealizou o Senhor dos Sonhos, conhecido por vários nomes (Morpheus, Oneiros, Sonho), assim como também uma série de personagens místicos, que passados por suas mãos, ganharam não apenas vida, mas também carisma e personalidades próprias. Lúcifer, Morte, Caim, Abel e Lucien são alguns exemplos clássicos dessas individualidades fictícias. Vale a pena conferir as suas setenta e cinco edições, facilmente encontradas para baixar na rede mundial de computadores ou para comprar, aí um pouco mais raramente, em sebos.
E, por último, foram discutidas as qualidades do roteirista e desenhista Frank Miller através de sua obra O Cavaleiro das Trevas. Esse americano deu uma visão próxima à violenta realidade em que vivem as maiores metrópoles do mundo a Gotham City, cidade do maior detetive do mundo: Batman. O Homem-Morcego também é apresentado com características igualmente brutais, causadas por esse cotidiano de luta contra o crime. O traço de Miller não apresenta nada de espetacular, pelo contrário. Mas seu roteiro é de fazer inveja a qualquer cineasta consagrado pelas maiores academias de cinema do mundo. Recentemente a editora brasileira Panini lançou uma luxuosa edição que contém tanto a primeira parte dessa saga como a segunda. Essa não é tão boa quanto a primeira, mas, para colecionadores e curiosos, vale a pena adquirir o volume.
Todos os autores acima citados possuem outras criações igualmente geniais. Eu poderia prazerosamente dissertar sobre elas para vocês, caros leitor e leitora, até não ter mais léxico ou conhecimento para defini-las. Mas aí viria à tona meu lado nerd chato. Consequentemente, vocês com certeza vestiriam seus uniformes noturnos, providos de identidades secretas e sairiam à noite com o intuito de caçar e espancar mais esse enfadonho e entediante vilão.
Donnerwetter!