sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As mil faces de uma velha companheira

Durante essa semana, enquanto exercia o meu ofício assalariado diário, recebi uma notícia que me chateou, deveras, um bocado. O pai de um grande e querido amigo acabou por falecer fatal, trágica e repentinamente. 

Qualifico assim tal acontecimento pois não havia qualquer tipo de enfermidade que anunciasse o infarto fulminante que o acometeu. Apenas acordou, viu seus dois únicos filhos e sua mulher por alguns momentos, respirou, comeu e bebeu algumas das suas últimas proteínas e foi abraçado por aquela velha conhecida que um dia chegará para todos aqueles que vivem por essas ou aquelas terras.

Quando a morte chega para algum indivíduo que de mim foi muito próximo, seja pela eventual amizade, coleguismo ou até mesmo pela forçosa ou prazerosa convivência familiar, pego-me a imaginar qual e como será o seu rosto. Será ele brando, de forma que ela nos acolha de modo carinhoso em nossa derradeira jornada? Ou severo, como quem diz: "agora você pagará por tudo que fez em vida!".

Desde minha infância até os dias de hoje, as histórias em quadrinhos, os livros e seus roteiristas, escritores e criadores de mente insana deram algumas imagens para a minha doentia imaginação materializar nos meus mais longínquos recônditos cerebrais. Algumas, por conta da idade e da suposta maturidade que vai chegando ao modo de ser dos indivíduos em geral, acabei crendo que seriam um tanto quanto fantasiosas.  


A primeira imagem que tive da morte foi por meio de uma personagem criada pelo mestre Maurício de Souza, o inventor da Turma da Mônica. Trata-se de uma morte clássica, com face cadavérica, um tipo de manto negro e uma foice, seu inseparável instrumento de realização da passagem fatídica, ou seja, dessa vida para outra. Porém, como todos que cresceram lendo os quadrinhos feitos por esse artista ímpar, trata-se de uma personagem provida de grande carisma e que arranca sorriso mesmo dos leitores que a leem somente nas salas de espera do dentista.


Uma outra visão que tive dessa que chegará um dia foi de acordo com o livro A menina que roubava livros, escrito pelo australiano Markus Zusak, que a coloca como narradora do romance. Essa versão já não é tão carismática quanto a do brasileiro acima citado, sendo ela fria e apenas relatadora dos fatos que à ela se apresentam. De acordo com a capa do livre (algo que sempre me deixa com um pé atrás), trata-se de uma figura sombria que tem em suas mão um guarda-chuva vermelho.


E a última e mais "atraente" causadora de tristezas é a mais do que famosa e carismática Morte de Neil Gaiman, personagem cativante das histórias em quadrinhos inserida na saga do Senhor dos Sonhos, o Lorde Morpheus, conhecido por uns como Oneiros, ou simplesmente Sandman. De acordo com a genial e criativa imaginação de Gaiman, ela tem a aparência de uma descolada garota de dezenove anos, meio roqueira, meio punk, meio gótica, que trata as suas "vítimas" com apreço e gentileza quando é chegada a hora fatídica.


Enquanto permanecermos respirando por essas bandas, o rosto da morte permanecerá sendo um mistério.O certo é que, uma vez visto, não poderá ser descrito por sua testemunha ocular.


E, particularmente, no momento atual, não tenho curiosidade de sabê-lo.

6 comentários:

  1. não tenho curiosidade nenhuma em saber como ela se apresenta, mas se até lá descobrirem um jeito de dar oi e tchau eu juro q vou tentar.

    engraçado q enquanto lia o começo do post, até turma da mônica eu tinha intenção de comentar sobre o livro A menina q roubava livros, e vc me surpreendeu, já q pelos livros citados aqui no blog, eu não imaginei q ele pudesse fazer parte da sua leitura. Gostou do livro?

    e claro, sinto muito pelo seu amigo, é sempre muito duro perder alguém q se ama, ainda mais assim, sem uma razão plausível, tipo doença.

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  2. Eu não tenho medo da morte, nem acho que ela tenha uma cara, acho só que é um acontecimento, sem forma alguma.

    Muitos temem o momento da morte. Para alguns chega a ser tornar uma fobia. Tenho uma amiga que sofre bastante com a fobia de morrer.

    Eu sinceramente não temo. Acho que tenho mais medo das doenças graves do que propriamente da hora de morrer.

    Beijocas

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  3. "A menina que roubava livros", Sentimental, eu li a bastante tempo, mas ainda o conservo em minha estante. Gostei muito desse livro. E a respeito dos títulos aqui citados, bem, conforme vamos envelhecendo, pelo menos no meu caso, damos mais atenção aos clássicos. Mas já li muito best seller também e acredito que muitos têm sua iniciação na literatura por meio deles.

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  4. Aqui eu tenho de tudo um pouco, até os q entram na lista de menos lidos... gosto de ter a minha impressão sobre as coisas, tudo bem q uma boa crítica até ajuda, mas não me intimido com as críticas severas, delas até já tirei ótimos títulos.
    e A menina q roubava livros é ótimo, dos famosos é o q eu mais gosto.

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  5. Interessante forma de se abordar um assunto complexo e dolorido como este.É forte pra mim, o relato dos primeiros parágrafos. Fico sempre muito impressionada, sofro pelo outro. Bom seria, se esta que cedo ou tarde nos acompanha,(de preferência tarde e indolor)fosse como a simpática D.morte, que também povoa o meu imaginário.
    Acho fantástico como o Maurício, cara que admiro muito também, trata o tema de modo natural e "leve" às crianças. Sigo sendo fã e levando os quadrinhos da Mônica aos meus alunos.
    "A menina que roubava livros" é um livro que ainda preciso ler, pela curiosidade do título. Abrs.

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    1. Maurício de Souza é com certeza o herói de passadas e futuras gerações. Você verá também, com relação ao livro "A menina que roubava livros", que a história alcança algo além do que sugere o título.

      Abraço.

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