terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Orgulho de possuir uma estante

A internet em pleno e infinito advento tornou possível o acesso a clássicos da música, da literatura e do cinema sem que o internauta precise pagar absolutamente nada pelo que descarrega em seu computador. 

Não é mais necessário ir a uma livraria ou até mesmo acessar uma loja virtual para ter o prazer de ler um livro desejado há muito, menos ainda sair de casa à procura de um CD ou vinil daquela sua banda favorita. Ir à locadora ou comprar aquele puta filme daquele diretor que revolucionou o modo de fazer cinema? Para quê? Tá tudo ali, no Google ó, digite o nome do filme e abaracadabra, aparecerão um sem número de blogs cujos donos tiveram a boa vontade de disponibilizar um cavalar acervo de filmes para cinéfilo algum botar defeito.

Apesar de toda essa facilidade, confesso que eu, quadrado e ultrapassado indivíduo que sou, posiciono-me contra todas essas facilidades. Sim. Ainda assino jornal impresso, gasto boa parte do meu suado e curto salário com livros, DVD's e CD's, e penso em, futuramente, quem sabe, comprar um toca-discos, só para ter o prazer de botar um vinil do Led Zeppelin  na vitrola e ficar deitado em minha cama, pensando no quanto os graves exalados por aquelas caixas poeirentas são belos e rústicos, bem mais empolgantes que meu novo e desgraçado MP4 portátil.

Não consigo ler livros na tela do computador. É um tormento. Tenho o hábito de ler com uma lapiseira na mão, que serve para destacar aquela passagem, aquela sacada genial, aquela conclusão filosófica que nos faz pensar: "puta merda, é isso mesmo, caralho!". Em várias oportunidades quase risquei a tela do computador, impelido por um trecho de extrema e conclusiva genialidade. E, assim como muitos leitores, sou tarado pelo cheiro de livro novo. 

No programa Provocações, transmitido pela TV Cultura e apresentado por Antônio Abujamra, o poeta Fabrício Carpinejar disse não acreditar no fim das tiragens impressas; para ele, o ato de folhear um livro é mais do que poético; é algo que vem das entranhas. Carol Bensimon escreveu recentemente em seu espaço no Blog da Companhia das Letras que, em um mundo tão moderno e veloz, ao pegarmos um livro e abri-lo em público, seria o mesmo que levantarmos o dedo médio para toda essa modernidade desenfreada, em que teses, ideias e opiniões não duram nem cinco minutos.

O mesmo para o ato de assistir a algum filme. Dificilmente baixo ou assisto algo no meu já bastante deteriorado notebook. Nada substitui o prazer de ter aquele DVD na sua estante e poder pegá-lo quando der na telha e assistir as imagens geradas por ele pela décima oitava vez. Assisto várias vezes ao mesmo filme. Decoro cenas, falas e gestos para depois chatear meus amigos nas mesas de bar.

Ao olhar para o meu lado direito, posso ver meu pequeno acervo, que possui algumas coisas das quais tenho muito orgulho: os sete livros da saga Harry Potter (sim, narrativa de primeira, apesar de possível plágio), três coletâneas de contos escritos por Edgar Allan Poe, romances de José Saramago, vários volumes da autoria do meu grande ídolo Rubem Fonseca, todos os filmes dirigidos por Quentin Tarantino, alguns de Stanley Kubrick, um pack com todos os DVD's da saga O Poderoso Chefão, CD's das bandas Led Zeppelin, Metallica, The Doors, Pink Floyd e mais algumas quinquilharias. 

µTorrent ou 4Shared nenhum substituem o materialismo poético de uma estante forrada de obras de arte.

8 comentários:

  1. Concordo plenamente com esta postagem. Apesar de arriscar algumas leituras no pc, músicas baixadas da rede e tantas outras coisas ao alcance do mouse, não abro mão de ter comigo os produtos do trabalho desses artistas. Livros, dvd's, cd's, revistas, jornais estão todos em minha estante. Revistas e Suplementos Literários em sua grande parte, livros da Clarice, Saramago, Graciliano, Guimarães Rosa e vários clássicos da Literatura Universal.

    Grande Abraço!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Tenho essa possessividade em relação aos livros. É impossível satisfazer minha fome de livro somente com arquivos virtuais.

    Gosto de usar o pronome possessivo "meu", no que diz respeito ao equipamento livro. Jamais essas estrovengas cibernéticas substituirão o invento de Gutenberg. Posso ouvir Led ou Pink no mp3. Mas não quero ler Saramago na tela do PC.

    Tá repreendido essa história de livro em tablet.

    Abraços

    ResponderExcluir
  4. Nada, absolutamente nada substitui o prazer de folhear um livro, de grifar partes interessantes, de sentir o cheiro de páginas novas e de poder usar um marcador para saber onde parou a leitura... Livro não tem que ficar tocando na tela pra ela não apagar, livro não descarrega e não tem q carregar... Aliás, o ato de carregar um livro é outro e bem mais gostoso. Mas vou confessar: já fiz download de livro pra poder pegar trechos interessantes e publicar no blog.

    É a mesma coisa com cds e dvds. Nada substitui o ato de abrir a caixa, pegar o disco e colocar no aparelho, isso faz parte do prazer de ouvir a música ou de ver o filme, é um ritual q não troco por nada nesse mundo, nem pelo fato de ser grátis e estar totalmente disponível depois de uma consulta no google.

    alguns velhos hábitos ainda valem muito a pena.

    ResponderExcluir
  5. Nenhum aparato cibernético substitui o livro. Nada. E eu que leio muitos artigos acadêmicos, sinto a necessidade de obtê-los em minha mão na hora de lê-los. Gosto de ver minha estante com a presença de meus livros e artigos.

    ResponderExcluir
  6. nada mais gostoso numa casa do que aquela estante cheia de livros. Desde criança digo e repito: ainda vou ter uma biblioteca maior que a de Alexandria! E ela há de não ser em pdf.

    ResponderExcluir
  7. Genial o seu post!

    Pensei que só eu pensasse desta forma.

    Cheiro de livros novos, ou até de antigos, assistir a um bom dvd, ou mesmo ler um bom jornal e depois ir lavar as mãos porque a tinta escorreu entre seus dedos devido a nossa imersão nata das páginas, não tem preço! Meu prazer!!!

    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O tato, na literatura, é deveras muito importante.

      Obrigado pelo "genial".
      Beijo.

      Excluir