Texto publicado no Homo Literatus em 27 de dezembro de 2013.
Eis a grande questão levantada exaustivamente por Philip K. Dick: “o que é a realidade, afinal?”.
Os ingleses Alan Moore e Dave Gibbons imaginaram em Watchmen um
mundo em que os Estados Unidos, durante a Guerra Fria, possuíam como
principal arma contra ataques nucleares um ser tido como indestrutível.
Dr. Manhattan teria a capacidade controlar átomos e moléculas de
qualquer coisa sólida, podendo desintegrá-la com um estalar de dedos.
Em O Homem do Castelo Alto, romance lançado originalmente em 1962 e vencedor do Hugo Award, Dick projeta uma realidade na qual os Estados Unidos perderam a Segunda Guerra Mundial para os países que formavam o eixo.
A trama não apresenta um protagonista. Há uma gama de personagens que
tentam sobreviver burlando um sistema legislativo dominado por
japoneses e nazistas. Para isso, máscaras e identidades secretas são
construídas. Suas atitudes são baseadas no que o oráculo chinês I Ching apresenta a seus olhos. Nada do que fazem é executado por vontade própria.
Robert Childan é um comerciante de objetos pertencentes à cultura
estadunidense considerados de valor histórico que tenta ascender
socialmente e ser aceito pela aristocracia japonesa, mesmo que para isso
ele tenha que se rebaixar perante os conquistadores de sua terra.
O artesão judeu-americano Frank Frink é um homem que tenta ganhar
dinheiro para ter de volta sua ex-mulher, Juliana Frink, uma instrutora
de judô que transita de um lugar a outro sem saber exatamente o que
quer. Ela acaba por se envolver com Joe Cinadella, caminhoneiro de
persuasões fascistas que aparece de maneira misteriosa em sua vida,
acontecimento esse que não se mostrará obra do acaso.
Mr. Baynes é um enigmático indivíduo sueco que chega aos Estados
Unidos como enviado de uma indústria fabricante de plásticos para
negociar com o Sr. Nobusuke Tagomi, um inseguro e supersticioso
representante comercial japonês. O propósito dessa visita mostrará que
as intenções de Baynes não são nada comerciais.
E há o homem do castelo alto, o escritor Hawthorne Abendsen, autor do livro O Gafanhoto Torna-se Pesado,
romance que apresenta uma absurda realidade na qual os Estados Unidos
teriam vencido a Segunda Guerra Mundial, fazendo com que nazistas e
japoneses tenham que abaixar a cabeça para a supremacia norte-americana.
Discutida entre todos os núcleos de personagens, essa obra incomoda
seus leitores, que admiram a coragem de seu escritor.
Coragem essa que também faz parte das características de Philip K. Dick, que em O Homem do Castelo Alto nos coloca a desconfiar se o que vivemos é real ou apenas uma de variadas linhas temporais possíveis.
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