Texto publicado em 25 de setembro de 2013 no Homo Literatus.
Reconheço-me como um adorador de livros.
Além de venerá-los e consumi-los de maneira compulsiva, gosto muito de
pesquisar a respeito de obras literárias.
Apesar disso, descobri, na faculdade,
que há um elemento que muitas vezes deixa essa atividade um tanto quanto
monótona. Tudo o que meros mortais como eu desejamos falar a respeito
de determinados autor e obra, devemos recorrer a crítico e texto
consagrados, ou seja, ao cânone.
Personagens, enredo, foco narrativo,
enfim, ponderar sobre cada elemento, todo tijolo que foi utilizado e
considerado pelo escritor até ver sua obra pronta. Então, para fugir do
rigoroso sistema acadêmico, descobri uma forma prazerosa de escrever
sobre aquilo que li.
Uma resenha bem estruturada pode ser tão
boa quanto a narrativa da qual está tratando. O crítico explora
subjetivamente o livro lido, fazendo um recorte daquilo considerado
essencial na trama, expondo suas sensações particulares, que depois
podem ser confrontadas com a de outros leitores, criando-se um grande
círculo vicioso. Isto gera a possibilidade de debates. A divergência de
pensamentos é o que consagra uma obra.
Um excelente exercício propiciado por
essa atividade é a identificação de intertextualidades. Muitos
escritores bebem em fontes clássicas e sutilmente as incorporam em seu
texto.
É o que fizeram Rubem Fonseca, com o
protagonista de suas narrativas policiais Paulo Mandrake, livremente
inspirado no detetive Phillip Marlowe, de Raymond Chandler, e Machado de
Assis, que elaborou a eterna dúvida a respeito da fidelidade de Capitu
na cabeça do pobre Bentinho, pautado na peça Otelo, assinada por Shakespeare. As possibilidades comparativas são inesgotáveis.
Saindo do território literário e indo
até à sétima arte, é impossível não pensar em Quentin Tarantino,
apontado como um liquidificador de cultura pop, criador de personagens
como Django e Jackie Brown, inspirados, respectivamente, em figuras dos
estilos western e blaxploitation.
O livro deve ser encarado como um
mosaico ideológico, uma colcha de retalhos que se descostura com o
intuito de intrigar, instigar e, acima de tudo, humanizar seu leitor.
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