Texto publicado no blog Caneta Tinteiro.
Ano: 1954. O Brasil passa por um período complicado politicamente, em
que as incertezas a respeito de seu presidente fazem com que militares
ameacem tomar o poder, políticos analisem melhores posições a serem
tomadas e amigos virem as costas àquele que um dia os acolheu e
enriqueceu.
Este é o cenário presente no romance Agosto, o quinto da
carreira do contista, romancista e roteirista Rubem Fonseca, lançado em
1990. Trata-se de uma narrativa policial histórica, na qual personagens
fictícias se misturam às personalidades e acontecimentos reais que
marcaram a queda e o suicídio de Getúlio Vargas.
O narrador apresenta Vargas, outrora respeitado e temido ditador,
completamente depressivo, derrotado e traído por seus comparsas. Estes
fatores facilitaram o ataque do deputado e jornalista Carlos Lacerda,
conhecido como "O Corvo", principal opositor do governo vigente.
Querendo calar a voz desta ave necrófaga, Gregório Fortunado, "O Anjo
Negro", então responsável pela segurança do presidente, trama o
assassinato de Lacerda, plano que acaba fracassado, tornando-se um tiro
no próprio pé.
O protagonista fictício desta história é o comissário Alberto Mattos,
representado pela figura de um herói decadente. Melhor aluno de sua
turma no curso de Direito, é um dos únicos policiais que não aceita
suborno dos bicheiros e cumpre os trâmites da lei à risca. Seu estômago
não suporta a sujeira do submundo carioca e Mattos é obrigado a conviver
com uma úlcera no duodeno, que o atormenta juntamente com implacáveis
questionamentos existenciais.
Alberto Mattos, assim como os sujeitos amontoados nas minúsculas
celas de seu distrito, é um fodido. Questiona-se o tempo todo se vale a
pena cumprir um sistema legislativo tão complexo e desfavorável aos que
estão à margem da sociedade. Alice e Salete, mulheres igualmente
descontentes com o mundo em que vivem, são as paixões de sua vida mal
resolvida, que o impede de decidir por qual amor escolher.
Ao publicar Agosto, Fonseca sofisticou um gênero pulp,
pois uniu detalhada pesquisa histórica a uma narrativa rápida, refinada
e poética, compondo algo que ultrapassa a definição de roman noir.
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