Texto publicado em 14/09/2013 no Homo Literatus.
Ao raro leitor, que esta página
acaba de acessar, faço a seguinte pergunta: é a única janela aberta em
seu navegador? Muito provável que a resposta seja negativa, pois essa
tal de rede mundial dos computadores oferece tantas possibilidades
informativas que fica difícil ater-se apenas a uma.
Sinto saudade do tempo em que juntava
sofregamente um dinheiro, de trocado em trocado, migalha a migalha, para
comprar aquele então caríssimo CD, correndo na contramão da emergente
pirataria. Ficava por meses a fio ouvindo apenas aquele álbum,
acompanhando as letras pelo encarte de maneira que elas grudassem no
cérebro. Atualmente, a dificuldade se encontra no fato de se manter fiel
a uma banda ou estilo musical. Ao abrir o caderno Ilustrada, da Folha
de São Paulo, ou a revista Rolling Stone, uma enxurrada de bandas que
prometem ser interessantíssimas me é apresentada. O resultado: baixo
tudo, não ouço nada.
Como não tinha videocassete e o DVD
ainda não existia, minha filmografia era baseada em Sessão da Tarde e
Tela Quente. Ficava maluco esperando por aquele filme dublado anunciado
meses antes de ser transmitido. Chegar à escola sem ter assistido O Grande Dragão Branco,
com o lendário Jean-Claude Van Damme, que havia passado no período
vespertino do dia anterior, era o maior dos crimes. Agora, não é preciso
ser um grande entendedor de informática pra baixar o filme que quiser
em poucos minutos. Precisei comprar um HD externo, dada a quantidade de
filmes baixados, dos quais, claro, poucos foram vistos.
No início de minha adolescência,
esperava ansiosamente pela chegada mensal de cinco gibis da DC Comics,
frutos de uma assinatura dada como presente por uma bendita tia.
Devorava tudo em menos de dois dias. Na expectativa da chegada do mês
seguinte, relia todas as edições. Hoje, a facilidade para comprar online
e a variedade de títulos é tamanha, que há várias histórias em
quadrinhos encalhadas em minha prateleira, esperando pelo longínquo dia
no qual serão lidas.
Nessa mesma estante, obras literárias
também se encontram em uma crescente fila de espera. Os culpados, além
do meu consumismo literário compulsivo, são os botões virtuais “compre
com 1 clique” das livrarias Cultura e Saraiva. Bons tempos aqueles em
que eu só lia livros da biblioteca da escola, a maioria da saudosa
Coleção Vaga-Lume. Lembro-me de ter lido o drama dos cortadores de cana
no romance Açúcar amargo, da autoria de Luiz Puntel, umas três vezes seguidas. Também me deliciei, entre um livro e outro, com releituras do misterioso O escaravelho do diabo,
escrito por Lúcia Machado de Almeida. Os volumes apresentavam capas com
bordas gastas, tamanha era a rotatividade das edições. Dá certa
amargura ver tantos livros novos, intocados, com as páginas brancas,
parados aqui em minha pequena biblioteca.
O foco talvez seja um dos maiores dramas
desses tempos tão modernos e cibernéticos. Ler, ver e ouvir tanta
coisa, ao mesmo tempo, é o mesmo que ser, de uma só vez, católico e
protestante, são-paulino e corintiano, nazista e judeu.
Ou seja: dá errado.
meu vício é comprar pelo submarino.
ResponderExcluirjá cheguei a ter 15 livros na fila de espera e isso me deixava em cólicas.
consegui dar um basta na fila, estou lendo o penúltimo agora e minha promessa é de q só compraria livros novamente qndo terminasse todos. agora estou ansiosa e quase em abstinência de livros novos. kkkk