sábado, 9 de fevereiro de 2013

A psicodelia de "Casanova: Luxuria"

Texto publicado no site Contraversão, em 06/02/2013.

Linhas temporais alternativas, seres estranhos, conspirações, segredos, traições. Esse é o cenário montado por Matt Fraction e Gabriel Bá em Casanova: Luxuria, história em quadrinhos protagonizada por um indivíduo fadado a ser o gêmeo ruim, a ovelha negra, a mosca na sopa de sua família.

Casanova Quinn é o filho de Cornelius, comandante da I.M.P.E.R.I.O., uma organização que tenta manter a todo e qualquer custo a ordem no planeta Terra. A relação entre pai e filho é totalmente conturbada, mas um único ponto os faz chegar à opiniões comuns: Zephyr, a irmã gêmea de Casanova e a principal agente da I.M.P.E.R.I.O.. Durante uma missão que tinha como mote investigar irregularidades no tecido do continuum do espaço tempo, Zephyr acaba morta.

Era a gota d’água que faltava para transbordar um copo cheio. Pai e filho agora tornam-se oficialmente inimigos declarados e Casanova Quinn tem sua cabeça colocada a prêmio pela agência de seu pai. Ele não tem outra alternativa se não juntar-se à M.O.I.T.A., organização criminosa tida como principal inimiga da I.M.P.E.R.I.O.. Com acesso às duas corporações, Casanova promete fazer chover no piquenique de todos e botar fogo no mundo para salvar sua pele, já que, como ele próprio se define, é um “profissional liberal” que não recebe ordens de ninguém.

Munido de um estranho aparelho semelhante a um isqueiro, que com um clic o faz viajar por diferentes linhas temporais, Casanova passeia entre passado e futuro, tendo deja-vu‘s e moldando a realidade conforme sua conveniência.  Nessas viagens, ele trava batalhas psicodélicas de força e resistência mental e vaga por mundos dominados pela luxúria, onde robôs são fabricados para exercerem a função de incansáveis prostitutas, constituindo cenários sci-fi em que a relação entre homem e máquina atingiu patamares inimagináveis.

Esse enredo, roteirizado de maneira complexa por Fraction, é traduzido pelo belo e forte traço de Gabriel Bá, que contribui para a sensualidade presente nesse arco dedicado ao pecado capital que se refere aos prazeres carnais. A coloração dada pela brasileira Cris Peter é algo de realmente se admirar. Com apenas quarenta e cinco cores escolhidas a dedo pelo desenhista, Peter fez uma bela “fotografia”, com uma coloração predominatemente verde, que contribui para o tom sombrio e lisérgico da trama. Quem gosta de cinema certamente apreciará. As imagens muitas vezes lembram a espetacular fotografia do recém-lançado longa “O Mestre”, de Paul Thomas Anderson, que, assim como a referida H.Q., trata de tempos e vidas paralelas.

A luxúria sideral e psicodélica das alternativas linhas temporais desse arco, faz com que aguardemos ansiosamente pela chegada do próximo pecado capital às prateleiras.

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