quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Gangsters

Fisgado. Talvez seja esse o termo que defina meu estado com relação à série Boardwalk Empire, produzida pelo canal HBO. Criada por Terence Winter (roteirista da consagrada série The Sopranos) e com Martin Scorsese (Taxi Driver, Touro Indomável) entre os produtores, o seriado é baseado no livro “Boardwalk Empire: The Birth, High Times and Corruption of Atlantic City", da autoria de Nelson Johnson, e mostra uma inescrupulosa batalha entre gangsters dos Estados Unidos. Já foram produzidas três temporadas com doze episódios, cada um tendo custado, em média US$ 5 milhões. Enquanto não vi o final do último período, não sosseguei. Julgava ser inconcebível alguém ficar na frente da TV assistindo a vários episódios seguidos de um determinado seriado. Senti na pele o que isso significa ao longo das três últimas semanas.

A trama é contextualizada no início da década de 20 estadunidense, quando foi aprovada a Lei Volstead, que proibia a fabricação, distribuição e venda de álcool (também conhecida como Lei Seca). Com isso, entram em cena homens poderosos, que buscam lucrar com o contrabando de bebidas alcoólicas. O protagonista e maior mafioso dessa prole é Nuck Thompson, interpretado magistralmente por Steve Buscemi. Várias histórias paralelas são mostradas, tendo sua figura como centro. Ele é o "dono" da cidade portuária de Atlantic City, que recebe e distribui para outras cidades, como New York e Chicago, a bebida contrabandeada transportada pelos navios. Por possuir o monopólio sobre esse lucrativo negócio, Nuck possui uma infinidade de inimigos tão poderosos quanto ele, que fazem de tudo para destruí-lo assim que a oportunidade se apresenta. O telespectador que é aficionado por produções como O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros, se sentirá em casa, dada a presença da clássica e brutal máfia italiana. Figuras como um certo Al Capone, pupilo de John Torrio, têm sua história indiretamente contada no decorrer da trama. 

Outras personagens coadjuvantes, que sempre procuraram viver de acordo com o que sua sociedade chama de "bons costumes", como a  viúva irlandesa Margaret Schroeder (Kelly MacDonald), mostram que quando se encontram em desespero e o dinheiro se apresenta facilmente, estão dispostas a ignorar o que tinham por princípios. Em Boardwalk Empire a natureza humana é mostrada como ela realmente é. Ninguém é bom ou mau o tempo todo. As pessoas agem de acordo com suas conveniências.

Além de todos os seus inimigos que atuam no mesmo ramo, Nuck tem a própria lei como grande rival. Para burlar o sistema judiciário que tenta pegá-lo a todo custo, ele recorre aos mais inescrupulosos jogos políticos, que atingem até os altos escalões da Casa Branca. Trocas de favores, discursos mentirosos, subornos, corrupção. Toda sujeira por trás do sistema político americano é mostrada com impressionante realismo. O próprio Nuck é um mestre em discursos vagos e respostas evasivas quando alguma pergunta direta sobre suas tramoias lhe é feita pela imprensa. Na última semana, um político brasileiro conhecido como José Genoino muito me lembrou a personagem interpretada por Buscemi. Enquanto assumia mandato na Câmara dos Deputados, mesmo tendo sido condenado a quase sete anos de prisão por sua participação no Mensalão, o figurão, quando indagado sobre sua dívida com a justiça, disse ter a "consciência serena dos inocentes".

Boardwalk Empire é uma aula para quem quer entender (ou tentar) o funcionamento destrutivo e vigarista das engrenagens de uma máquina política. E, também, para aqueles que ainda não compreendem o porquê de gangsters como Genoino nunca serem detidos.  

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