Texto publicado no Homo Literatus em 7 de janeiro de 2014.
Ao ler o artigo intitulado Brazil’s most pathetic profession, escrito pela Vanessa Barbara no New York Times em 16 de dezembro último, fiquei a refletir sobre a situação na qual se encontram certas profissões em nosso país.
Em seu texto, Vanessa dá ênfase à vida de escritor no Brasil. Em meio
a seus relatos pessoais, de como faz malabarismos para conseguir
complementar sua renda de escritora em um país que lê pouco, ela cita a
mais importante de todas as profissões, que também não é valorizada por
essas terras: a do professor.
Sou um desses malucos que sonham com a profissão desprofissionalizada
de escritor. Como se não bastasse, estou me graduando para,
possivelmente, em algum futuro distante, dar aulas.
Não, não ganho nada para escrever nos três sítios da internet dos quais faço parte. Escrevo artigos para Homo Literatus, Obvious e Donnerwetter!
pura e simplesmente por gostar de transformar ideias em palavras, e
também por ser fanático por literatura, cinema e histórias em
quadrinhos. O que faço para sobreviver é algo totalmente diferente.
Há sete anos trabalho como mecânico em uma empresa brasileira do ramo
aeronáutico. Antes disso, trabalhei quase trinta e seis meses como
torneiro em uma pequena fábrica de implementos agrícolas.
Por que escolhi essa profissão? Quando me formei no ensino médio,
queria ser jornalista, mas o desejo de ganhar meu próprio dinheiro foi
maior, daí resolvi fazer o curso profissionalizante de Mecânico de
Usinagem e o técnico em Mecatrônica. E é graças a esses diplomas que
consigo ganhar um salário anual maior que o de escritores e professores.
Se gosto do que faço? Acredito que em toda e qualquer profissão haja
aprendizados que podemos carregar por toda a nossa vida, então, mesmo
não sendo uma área que eu desejasse desde pequeno, considero
interessante trabalhar com a tecnologia aeronáutica.
Se abandonarei a profissão de mecânico quando me formar em Letras?
Não. Acho muito difícil abandonar um emprego com salário razoável e
benefícios por uma profissão pouco valorizada. Sim, seria uma jornada
sofrida, como já é atualmente. Mas ser jornalista, escritor ou professor
no interior de São Paulo não garantiria que eu conseguisse bancar todos
os gastos que uma faculdade, mesmo sendo pública, exige. Nesses últimos
dez anos, descobri que, se quiser trabalhar com o que gosto, também
terei que me desdobrar em algo diferente, com jornadas duplas e
identidades secretas.
No dia 2 de janeiro o jornal O Estado de São Paulo publicou
matéria apontando “que a narrativa em tiras é a preferida de 45% dos
estudantes do ensino fundamental e médio.”. Só consegui enxergar essa
frase pelo viés pessimista relacionado à brevidade, e não à contundência
desse tipo de mídia.
Os alunos continuam lendo pouco, os professores e os escritores
continuarão a ganhar salários pífios e o Brasil continuará a ser o país
que reluta em acreditar que os leitores emergem melhores como seres
humanos após um mergulho nos mares da ficção.
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