Texto publicado no Homo Literatus em 30 de outubro de 2013.
No livro Segredos do Romance Policial: história das histórias de detetive (Três
Estrelas), P. D. James dedica um capítulo aos romances policiais e
detetives estadunidenses intitulado “Durões por fora, sensíveis por
dentro”. Nele, James aponta para as peculiaridades do roman noir da
terra do Tio Sam: violência, desigualdade social, corrupção, suborno e,
claro, assassinato, crime caro comum às narrativas policiais. Todos
esses elementos estão presentes na obra Janela para a morte (L&PM), da autoria de Raymond Chandler.
Philip Marlowe, o protagonista das histórias de Chandler, é
contratado por Elisabeth Murdock, ricaça viciada em vinho do Porto, para
investigar o desaparecimento de uma valiosa moeda, o Dobrão Brasher.
Inescrupulosa e preconceituosa como é, Murdock acusa Linda, dançarina de
Los Angeles e ex-mulher de seu filho, Leslie, pelo furto.
Marlowe pode ser considerado um detetive do acaso, se comparado aos
clássicos investigadores C. Auguste Dupin e Sherlock Holmes, que
resolvem seus enigmas de maneira cerebral. Amante do jogo de xadrez,
conhecedor dos maiores jogadores da história, movimenta suas peças de
modo aleatório, tal fosse um enxadrista iniciante.
Para solucionar o caso da moeda desaparecida, embrenha-se em um mundo
repleto de vigaristas e assassinos. Sendo assim, ele se depara com três
cadáveres, vítimas de assassinato, que colocam a polícia em seu
encalço. Não bastasse isso, o passado da família Murdock vem à tona,
revelando que esse caso não se resume ao sumiço de um item valioso.
No desenrolar da trama, percebe-se a crítica social exercida por
Chandler, que mostra pessoas da baixa sociedade, residentes dos bairros
pobres de Los Angeles, que perambulam pelas entranhas da alta classe
social de Pasadena. A diferença entre ricos e pobres está nos dentes
amarelados, no uísque barato, nas roupas mulambentas.
A narrativa é, de uma só vez, ágil e crua, com longas e detalhadas descrições peculiares à pulp fiction,
que alongam a história, beirando a divagação. Os cenários são descritos
minuciosamente pelo protagonista-narrador, dando certo tom poético à
narrativa. O título da obra, brutal e enigmático, só é explicado nos
derradeiros momentos da trama.
Janela para a morte, além das outras obras de Raymond Chandler, influenciou gerações de escritores. É um clássico por excelência.
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