terça-feira, 19 de novembro de 2013

O legado de Edgar Allan Poe

Texto publicado no Homo Literatus, em 7 de outubro de 2013.

Atualmente, quando se pensa em tramas policiais e histórias de detetive, é quase impossível não associar esse gênero aos produtos da indústria estadunidense de entretenimento. Filmes e séries com frenéticas e violentas investigações policiais, em que os tiras quase sempre chegam à solução por meio de investidas truculentas, são bem comuns e geram grande receita.

No romance policial não é diferente. Raymond Chandler inseriu seu protagonista, o detetive Phillip Marlowe, no decadente e violento cenário dos Estados Unidos das décadas de 1920 e 1930, auge da Lei Seca e do colapso econômico norte-americano. Nenhum pouco cerebral, Marlowe se utilizava do acaso para resolver os casos nos quais estava envolvido e, por isso, muitas vezes sofria as brutais consequências por se meter em ninhos de gangsteres e policias corruptos.

Porém, antes de “violentos” escritores como Dashiell Hammet e James Ellroy, Edgar Allan Poe, consagrado por suas histórias de horror e mistério, deu vida ao Chevalier C. Auguste Dupin, excêntrico parisiense que tem, assim como Sherlock Holmes, suas ações narradas por um indivíduo que convive com ele, fazendo as vezes de Dr. Watson. Como se vê, possivelmente os contos da “trilogia Dupin” serviram como fonte direta de inspiração para Sir Arthur Conan Doyle.


Esta tríade de narrativas curtas formada por “Assassinatos na Rua Morgue”, “O mistério de Marie Rougêt” e “A carta roubada” mostra um extravagante indivíduo, simpático ao exercício intelectual que, não por qualquer simpatia às vítimas, mas sim pelo prazer de resolver enigmas, envolve-se na investigação de mortes e roubos.

Sentado em sua sala, envolto por trevas e anéis de fumaça provenientes de seu cachimbo, Dupin resolve as ocorrências por meio de deduções baseadas em cálculos matemáticos, estatística e poesia. Sua mente vai além dos métodos investigativos da polícia parisiense, que, segundo ele mesmo a define, é bem intencionada, porém, limitada. Em momento algum ele se vale da força física em suas empreitadas, passando a imagem de um autêntico cavalheiro pensante, cerebral em todos os aspectos de seu ser. Na surdina, baseado em depoimentos díspares com poucas coincidências, notícias de jornal e complexa obviedade de um esconderijo, Dupin surpreende a todos, inclusive ao narrador de suas peripécias, que não se cansa de encontrar novidades em seu curioso comportamento.

Além do misterioso corvo de seu famoso poema e de um assustador e enigmático gato preto, Poe deixou como legado, quando faleceu há 154 anos, um personagem carismático, que se tornou clássico para todos os amantes da boa ficção policial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário