Texto publicado no Homo Literatus, em 7 de outubro de 2013.
Atualmente, quando se pensa em tramas
policiais e histórias de detetive, é quase impossível não associar esse
gênero aos produtos da indústria estadunidense de entretenimento. Filmes
e séries com frenéticas e violentas investigações policiais, em que os
tiras quase sempre chegam à solução por meio de investidas truculentas,
são bem comuns e geram grande receita.
No romance policial não é diferente.
Raymond Chandler inseriu seu protagonista, o detetive Phillip Marlowe,
no decadente e violento cenário dos Estados Unidos das décadas de 1920 e
1930, auge da Lei Seca e do colapso econômico norte-americano. Nenhum
pouco cerebral, Marlowe se utilizava do acaso para resolver os casos nos
quais estava envolvido e, por isso, muitas vezes sofria as brutais
consequências por se meter em ninhos de gangsteres e policias corruptos.
Porém, antes de “violentos” escritores
como Dashiell Hammet e James Ellroy, Edgar Allan Poe, consagrado por
suas histórias de horror e mistério, deu vida ao Chevalier C.
Auguste Dupin, excêntrico parisiense que tem, assim como Sherlock
Holmes, suas ações narradas por um indivíduo que convive com ele,
fazendo as vezes de Dr. Watson. Como se vê, possivelmente os contos da
“trilogia Dupin” serviram como fonte direta de inspiração para Sir Arthur Conan Doyle.
Esta tríade de narrativas curtas formada
por “Assassinatos na Rua Morgue”, “O mistério de Marie Rougêt” e “A
carta roubada” mostra um extravagante indivíduo, simpático ao exercício
intelectual que, não por qualquer simpatia às vítimas, mas sim pelo
prazer de resolver enigmas, envolve-se na investigação de mortes e
roubos.
Sentado em sua sala, envolto por trevas e
anéis de fumaça provenientes de seu cachimbo, Dupin resolve as
ocorrências por meio de deduções baseadas em cálculos matemáticos,
estatística e poesia. Sua mente vai além dos métodos investigativos da
polícia parisiense, que, segundo ele mesmo a define, é bem intencionada,
porém, limitada. Em momento algum ele se vale da força física em suas
empreitadas, passando a imagem de um autêntico cavalheiro pensante,
cerebral em todos os aspectos de seu ser. Na surdina, baseado em
depoimentos díspares com poucas coincidências, notícias de jornal e
complexa obviedade de um esconderijo, Dupin surpreende a todos,
inclusive ao narrador de suas peripécias, que não se cansa de encontrar
novidades em seu curioso comportamento.
Além do misterioso corvo de seu famoso
poema e de um assustador e enigmático gato preto, Poe deixou como
legado, quando faleceu há 154 anos, um personagem carismático, que se
tornou clássico para todos os amantes da boa ficção policial.
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