Como todos sabem, o Brasil tem em sua história um período de grande opressão e violência àqueles que se opunham ao regime político implantado de maneira forçosa entre os anos de 1964 e 1985. A ditadura militar fez inúmeras vítimas (algumas delas desaparecidas até hoje) e ainda causa espanto quando é relatada por meio da literatura e do cinema.
Agora imagine se esse período fosse adaptado para as histórias em quadrinhos, com as característica dos filmes e romances policiais de estética noir. Pois o roteirista Raphael Fernandes e o desenhista Abel imaginaram e criaram a excelente série de tiras Ditadura No Ar.
O protagonista dessa violenta e instigante história é Félix, um fotógrafo que tenta a todo custo encontrar sua amada, Lenina, uma mulher nascida em berço de ouro, comunista por opção (o nome da moça alude a uma inversão de gênero para o nome do famoso revolucionário russo).
O roteiro de Raphael lembra a dureza do texto policial de Raymond Chandler, o que coloca Félix como um tipo de Phillip Marlowe brasileiro, duro na queda, que sofre e resiste bravamente às torturas física e psicológica impostas pelos milicos. Os desenhos de Abel passam ao leitor imagens que remetem aos mais célebres filmes policiais, captando com muita competência a ideia da estética noir. E, claro, o título é uma grande sacada poética, pois faz com que a sonoridade da frase em português remeta ao termo francês.
Não se deve subestimar Ditadura No Ar pela extensão de suas duas primeiras edições. Apesar de curtas, elas são densas e nos convidam a refletir, mais uma vez, sobre a brutalidade e complexidade desse conturbado período brasileiro.
Ditadura No Ar é um retrato em preto e branco preciso e jornalístico das atrocidades cometidas contra aqueles que se opunham ao regime militar. Retrato esse que só um fotógrafo habilidoso e sagaz como Félix poderia captar.
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