Como já mencionei inúmeras e exaustivas vezes por aqui, durante o ano, fica difícil para quem
gosta de ler encontrar tempo para fazê-lo com a quantidade de afazeres
relacionados a trabalho e estudo. Obras muito cerebrais são um convite ao sono.
Então, as narrativas dinâmicas, porém, de qualidade, são as melhores pedidas
para se degustar no ônibus ou em momentos raros de descanso.
Os romances policiais de Raymond
Chandler, ambientados nos Estados Unidos economicamente quebrados das décadas
de 30 e 40, presenteiam seus leitores com uma gama de personagens e tramas
cativantes, que prendem do início ao fim. No romance “A dama do lago”, de 1943,
não é diferente.
O detetive que nada sabe sobre técnicas
investigativas, durão e sedutor Philip Marlowe, protagonista das histórias de
Chandler, mais uma vez é envolvido em um caso complexo e recheado de
reviravoltas. Contratado por Derace Kingsley, um figurão da proibida cidade de
Los Angeles, para descobrir o paradeiro de sua mulher, Marlowe se vê em uma
teia de acontecimentos que abrange corruptos, enganadores, improváveis
inocentes e femme fatales. No rastro
de Crystal, bela e loura esposa foragida de Kingsley, que supostamente teria
fugido com Chris Lavery (um ex-funcionário do marido), Marlowe é obrigado a
subir até um rancho de Derace, em Puma Point, onde conhece o simples caseiro
Bill Chess.
Chess informa que, assim como no caso de
Kingsley, sua mulher, Muriel, também o havia abandonado e desaparecido.
Coincidentemente, ambas possuíam os mesmos belos traços pertinentes a uma femme fatale: louras, lindas, charmosas,
misteriosas e, claro, fatais. Enquanto conversam, andando ao redor do lago
Little Fawn, têm a grata surpresa de encontrar algo particularmente estranho: o
corpo de uma linda, loura e charmosa mulher. Era Muriel.
A partir daí, uma investigação complexa
e cheia de reviravoltas é conduzida com narrativa competente e inteligente.
Personagens caipiras, nativos da província de Bay City, como o tranqüilo e
monótono xerife Patton, dão um ar western
à trama, o que contribuí ainda mais para a tensão entre mocinhos e
bandidos. Em certos momentos, não se sabe exatamente quem é o bom, o mau ou o
feio da história. Policiais corruptos e inescrupulosos levam o leitor a duvidar
do papel de cada indivíduo na trama.
A já conhecida habilidade de Raymond
Chandler em descrever cenários realmente mexe com o imaginário do leitor.
Detalhes como um vaso posicionado em certo canto do imóvel, um tapete que dá ar
altivo a um escritório ou a penumbra que abrange uma sala criam cenários como
os dos clássicos filmes de estética noir,
em que o preto e o branco se entrelaçam por suas intensidades. Várias obras de
Chandler, aliás, como “O sono eterno”, foram adaptadas para as telonas e
tornaram-se grandes clássicos do gênero.
E, claro, não há como passar despercebido
pelas celebres frases metafóricas de Marlowe. Para citar um exemplo: ao entrar
em um luxuoso edifício e olhar as vitrines, compara essências e perfumes em
frascos de vidro adornados por laços de cetim com “garotinhas em uma aula de
balé.”
A estética dada pela editora L&PM ao
livro propriamente dito é mais um atrativo. A literatura detetivesca americana
sempre foi considerada como pulp.
Ciente disso, os editores da L&PM, reconhecidamente a maior e melhor
editora de livros de bolso do Brasil, deram um belo acabamento artístico à
capa, com cores simples, que remetem a essa literatura considerada marginal pelos
críticos mais cultos. Uma blasfêmia, em minha opinião.
Para aqueles que gostam de ação e
suspense de tirar o fôlego, “A dama do lago” é leitura obrigatória.
Ou, como talvez Marlowe o classificasse:
um romance noir bom como um beijo de femme fatale.
Li uns livros de Raymond Chandler, cerca de dez anos atrás e adorei. As cenas ficavam grudadas na minha mente por cerca de um mês. Até me confundia, pensando que era cena de algum filme. Pena que ele escreveu poucos livros. Mas pretendo relê-los, vale a pena. ...Carlos Medeiros....http://grandeonda.blogspot.com
ResponderExcluireu gosto de suspense, ação, romance e se tudo estiver junto, melhor ainda.
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