segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Saborear e recomendar

Exceto aqueles leitores que, por ideologia ou idade avançada, prendem-se aos autores clássicos já devidamente enterrados e imortalizados, os outros amantes da literatura buscam algo novo com o que se encantar.  Claro, todos possuem os seus escritores prediletos, que nos fazem ler e reler incansavelmente um romance, um conto ou um poema. 

A forma de escrever, o modo como as ideias são expostas, enfim, são coisas que inexplicavelmente nos cativam, convencendo-nos de que aquele determinado nome impresso na lombada quadrada do livro merece um lugar especial em nossa estante. E, como fiel membro do grupo dos caçadores de ideias novas, exponho aqui duas recentes descobertas que me foram muito gratas.

 A primeira remete ao romancista, roteirista, ator e quadrinista brasileiro Lourenço Mutarelli. Sim, alguns aqui se surpreenderão por só agora, tão tardiamente, o indivíduo que aqui vos escreve ter descoberto o autor de obras como O Cheiro do Ralo, Natimorto e dos quadrinhos protagonizados pelo detetive Diomedes. Admito, foi um lapso. O fato é que o pouco contato que tive com os escritos desse paulistano foi o suficiente para cativar-me profundamente. Além de sua produção, que deixou-me ansioso por devorá-la o quanto antes, Mutarelli é um daqueles caras que, quando falam, inspiram multidões. Contido, mostra-se conhecedor nato de variadas formas de arte, o que faz com que seja tão polivalente como artista. Prova disso é sua entrevista para o programa Provocações, transmitido pela TV Cultura no dia 03 de abril de 2012. A cada pergunta feita pelo apresentador Antônio Abujamra, ele citava inúmeras referências, que abrangiam cinema, quadrinhos e literatura, levando-me a pesquisar e incluí-las em minha lista de desejos culturais.

Minha segunda e recente descoberta, à qual me referi acima, é o argentino Ernesto Sabato (foto), cujo livro "O Túnel" está entre as obras da bela e recém-lançada Coleção Folha LIteratura Ibero-Americana. Sylvia Colombo introduz o livro como "um drama de cunho existencialista embutido numa narrativa policial". Tal mistura literária cumpriu toda a expectativa que foi em mim previamente despertada. Com uma velocidade narrativa peculiar a excelentes romances policialescos, Sabato induz o leitor a mergulhar na loucura do paranóico protagonista Juan Pablo Castel, que inicia o história dizendo-se cometedor de um assassinato, e em tom confessional revela os motivos que o levaram a realizá-lo. Consagrado em seu país, Ernesto Sabato acaba de ganhar lugar cativo em minhas preferências literárias, levando-me a recomendá-lo fortemente para aqueles que estão em busca de uma trama embriagante.

No momento, encontro-me na companhia do romance Jesus Kid, de Mutarelli, que me foi recentemente presenteado por uma amiga. Lá estão presentes variadas e muito bem elaboradas referências às obras de nomes como Tarantino e Leone, que resultaram num omelete que tem como ingredientes elementos do western e diálogos ácidos. Enfim, tudo o que aprecio.

Só me resta saborear. E recomendar.

Um comentário:

  1. Já tinha ouvido falar muito bem do argentino, e agora fiquei interessada em ler.

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