domingo, 15 de abril de 2012

O traço poético de Moon e Bá

Que sou um amante incondicional da nona arte, não é segredo para ninguém que acompanha esse espaço. É difícil haver algum post no qual eu não me refira à ela, citando obras e autores, fazendo pontes com outras formas de manifestação artística. Nesse semestre, como já foi escrito por aqui, estou às voltas com a poesia. Então, procuro enxergar em tudo que leio ou visualizo resquícios da dita cuja. Uma das perguntas que mais venho escutando é: "a poesia existe nos fatos?".

Comecei a ler essa semana a premiada HQ dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá intitulada Daytripper. Como é de praxe, introdutoriamente são mostrados alguns fragmentos de artigos escritos por variados e renomados jornalistas. E achei bem interessante o depoimento de um deles, que dizia serem os irmãos, até há poucos dias, dois jovens andando por aí com um portfólio embaixo do braço e agora são possuidores de uma obra-prima. 

Em expor essa poesia presente no cotidiano, essa dupla é muito boa. São verdadeiros poetas-quadrinistas, fazendo com que cada traço ali desenhado, baseado em um simples roteiro, possua toda a complexidade e sutileza que um gesto humano possa ter. Para quem não sabe, todo sábado, no caderno  Ilustrada, da Folha de S. Paulo, eles produzem tiras igualmente profundas, literariamente falando, em que mostram seres humanos com suas fúteis manias egocêntricas e materialistas sendo reprimidos por lições dadas por animais, tal como nas fábulas de Esopo (para quem não costuma ler o diário impresso, confira em http://10paezinhos.blog.uol.com.br/).

Comparo o modo como esses fazedores de imagem trabalham ao dos poetas, os quais atualmente estou conhecendo e me surpreendendo, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade, que faziam poesia perfeitamente cientes do que estavam escrevendo. Cada rima, palavra, entonação, sibilar, enfim, tudo fazia sentido, pois eram conhecedores não só de obras prontas, mas de teorias também, assim como fazem os irmãos cartunistas com seus traços.

Estou relendo algumas edições de minha coleção de gibis, que remetem a quando lia mensalmente tudo que era lançado no famoso "circuitão pop". Difícil enxergar a mesma poesia nos belos traços de artistas como Graham Nolan (Batman) e Mark Bagley (Homem-Aranha). Muito por causa dos roteiros que, agora, na minha visão adulta, parecem-me descartáveis, interessados apenas na vendagem. Nem escuto falar dos roteiristas daquela época. Acompanhei sagas que são pouco lembradas por críticos de histórias em quadrinhos, dada a pobreza literária dos articuladores que as escreveram.

Pensando em tudo isso, peguei-me a imaginar um mundo utópico, em que eu encontraria graphic novels intituladas "Morte do leiteiro" e "Morte e vida severina": na lombada de cada luxuosa e encadernada edição, estariam impressos os nomes dos respectivos poetas que criaram tais obras, seguidos dos de Moon e Bá, desenhistas sensíveis a esse tipo de roteiro. 

Utilizando-me do atual jargão das redes sociais, fica a dica para projetos desse tipo, não somente aos já consagrados artistas, mas também a aqueles que se julgam talentosos desenhistas de traços poéticos, capazes de mostrar a tal poesia que está ligada aos fatos do nosso sofrido cotidiano.

7 comentários:

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  2. o desenho é um tipo de arte que possui toda a possibilidade de alcançar e ter ares poéticos.

    Confesso que quando li 'gêmeos', me veio na mente os gêmeos do grafite, mas logo vi que se tratava de HQ. e já vi uma entrevista com esses irmãos, em algum canal que não lembro o qual, e realmente são muito talentosos e premiados!

    sensibilidade, esse é o segredo de tudo. na minha opinião, é onde vive a poesia. artistas, sejam eles desenhistas, grafiteiros, escritores, cantores e etc, etc, tranformam sua arte em poesia devido a sua sensibilidade extrema.

    quem consegue ter sensibilidade para encarar o cotidiano, tranforma-o em poesia.

    p.s: e que a sua dica seja ouvida !

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  4. Olá!

    Lendo alguns textos por aqui, percebi que tu cursas Letras. Onde tu estudas?
    A propósito, notei também o primeiro embate com a poesia. Admiro o trabalho de João Cabral de Melo Neto e de Drummond, embora ainda não tenho tido acesso a muitos obras deles. Pretendo corrigir esse erro em breve. Gostaria de te indicar alguns autores também, se me permitir. Aprecio muito os livros de Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Fernando Pessoa. Deste último, recomendo o livro Mensagem e os poemas publicados pelo pseudônimo Álvaro de Campos. Espero que as dicas ajudem de alguma forma.
    Percebi que tu falas alemão! Comecei há alguns meses um curso, pois acho o idioma bem interessante e poderá me ajudar no futuro profissional, talvez.

    Gostei muito dos textos do blog; a expressão é muito boa e os assuntos também. Sou fã da literatura!

    Por ora, 'Bis Bald!'.

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  5. Em geral eu tenho mais facilidade com a gramática, mas ainda não me deparei com as preposições. Creio que, com o tempo, eu consiga melhorar a pronúncia.

    "Os Sertões" é um que eu ainda não li, mas que me chama bastante a atenção. Falavam muito sobre ele quando eu estava no cursinho pré-vestibular, e até li alguns trechos, mas na época não tive tempo para buscar mais informações devido às provas. Está na minha lista para a próxima Feira do Livro.

    Abraço.

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  6. Ainda não li esses quadrinhos adultos. Visto dezenas de elogios que já vi por aí, pretendo dar uma olhada. Poesia, já tentei ler, mas não consigo. Livros em prosa, leio muitos. Abraços. Carlos Medeiros...http://grandeonda.blogspot.com

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  7. ultimamente eu tenho visto poesia em tudo...

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