terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cada vez mais burros

Acabo de chegar de minha aula relativa ao curso intensivo de língua alemã que estou frequentando nessas férias. Porém, o que me impulsiona a aqui escrever não são as peculiaridades do idioma estudado e nem a evolução que sinto em meu escasso palavrório germânico, mas sim as informações que tenho lido e ouvido desde domingo com relação ao comportamento e à televisão do nosso querido e judiado Brasil. 

Ontem, li dois excelentes posts comparando uma série de fatores comportamentais entre os brasileiros e alemães em geral nos blogs Confissões Ácidas e Entre Mãe e Filha. Os textos falavam sobre o modo como os aqui nascidos não sabem se comportar adequadamente diante de uma opinião sincera, enquanto que os naturais da terra de Beethoven não só o sabem fazer como sempre são muito corretos em suas réplicas. Nada mais que a verdade. Muitos brasileiros interpretam como uma afronta um ponto de vista diferente dos seus e não conseguem buscar recursos para argumentar perante algo do tipo.

O motivo? Para mim, falta de cultura. Lê-se cada vez menos. A grande maioria prefere a televisão aos livros, jornais ou revistas. O brasileiro de hoje é educado por programas de baixa qualidade e nível cultural duvidoso. Nessa aula à qual me referi acima, minha professora, que é nascida na Alemanha e vive no Brasil há cinco anos, descreveu sua resposta para as pessoas que lhe perguntam se ela assistiu ao Domingão do Faustão: "Nunca!". E minha colega de classe, com relação ao Pânico na TV: "Sempre que posso, não." Ela, uma estrangeira, já sabe que a nossa televisão é uma imensa lata de lixo.

No jornal Folha de S. Paulo de domingo, na página em que são listadas as principais frases ditas durante a semana, duas delas muito me chamaram a atenção. A primeira era da autoria do jornalista Carlos Nascimento: "A Luíza voltou do Canadá. E nós já fomos mais inteligentes." A segunda, do, para mim, miserável e sacripanta ex-jornalista e homem de bem, que cobriu acontecimentos marcantes da nossa história recente (como a Guerra do Golfo e queda do Muro de Berlim), Pedro Bial: "O amor é lindo". Essa foi proferida enquanto era mostrado no vídeo um possível abuso, ou possível estupro, ou possível filme pornográfico de péssima qualidade, ou possível agressão aos olhos, à mente e à moral de quem estava assistindo e dando ibope a esse monte de merda (desculpem a palavra chula) chamado Big Brother Brasil.

Joca Reiners Terron postou hoje, no Blog da Companhia das Letras, um texto intitulado Cotidiano de um colunista sem assunto. Mas sobre o que falarão os articulistas? Só o silêncio pode justificar o tanto de bobagem que somos obrigados a aturar. Complexo vira-lata? Longe disso. É a mais pura realidade. Vi uma notícia sobre um movimento na internet que pede para que todos não sintonizem seus televisores na Rede Globo amanhã, 25 de janeiro. Alguém acredita que isso dará certo?

Continuaremos assim, até o fim dos tempos, vivendo em um país desprovido de consciência crítica, admirando como os estrangeiros são mais lúcidos e, parodiando o famoso refrão dos Titãs, com a televisão deixando nosso país muito burro, muito burro demais.

16 comentários:

  1. ahahha, eu adorei o nome do teu blog :-) mt bom! Donnerwetter!! ahahaha

    Obrigada pela visita e pela mencao aqui do bloguito.

    Concordo que educacao pode ser um ponto importantissimo, mas essa generalizacao das merdas na tv é geral, viu Murilo?! Aqui a tv tbm tá mt ruim, o diferencial é que tem mts canais abertos, mts possibilidades. Pra vc ter uma ideia a porcaria do big brother tbm tem aqui e ja deve estar na milesima edicao.
    O que noto aqui é que os jovens estao aderindo toda essa porcariada, estao emburrecendo tbm, junto com todo o resto da populacao mundial. A gente tá é ferrado menino...
    Mas vc tem razao, ainda é enorme a diferenca entre nós, pobres e hipócritas brasileiros e os alemaes ou mesmo, boa parte da europa. Tem mt coisa que a gente deve aprender se quer mesmo crescer como país. Mt caminho a percorrer.
    Brasileiro passa mt tempo em frente a tv, emburrecendo e a geracao que vai chegando vai acompanhando esse triste processo sem pestanejar, sem duvidar, sem criticar :-(

    Entao vc ta estudando alemao? Bom saber que ainda tem gente interessada nessa lingua linda. Qd vc vier a Alemanha, por favor tente ir a uma regiao onde eles mais próximos estao do Hochdeutsch ok? Senao vc vai ficar em duvida se realmente esta falando a mesma lingua que estudou no brasil :-) Mas ter uma professora nativa, ja ajuda mt.

    Boa sorte com tudo aí!
    Um abracao
    und bis dann!

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    1. Muito me entristece essa notícia de que o emburrecimento é geral. Enfim, só nos resta esquivar-nos e selecionarmos o que há de bom por aí.
      Pois é, estudo alemão há dois anos. Ainda não tenho léxico para viajar até aí, mas estou programando uma ida para o meio do ano que vem. E sem dúvida a nacionalidade de minha Lehrerin ajuda muito.

      Vielen Danke! Auf Wiedersehen!

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  2. Vejo que você a Nina se encontraram por conta do assunto diferença cultural.

    Bem, só posso concordar contigo e lamentar o que a Nina disse de que lá também tem BBB e esses outros lixos.

    Acho que o Brasil não tem solução a curto prazo, talvez com o passar de muitos anos nossa cultura evolua um pouco, mas não vai ser algo que eu vá ver.

    Beijocas

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    1. Acho que não será algo que nós iremos ver, Dama. Infelizmente.

      Abraço.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Belo "manifesto".
    Estava ouvindo o John em "Working class hero", e ele diz :
    "Keep you doped with religion and sex and TV
    And you think you're so clever and classless and free
    But you're still fucking peasants as far as I can see".
    É bem por aí..

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  5. E não é? A televisão é realmente algo monstruoso. Difícil convencer alguém viciado em assisti-la de que o mundo fora dali é muito melhor.

    Abraço.

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  6. Uma vez ouvi que o único mal do Brasil, é estar cheio de brasileiros, achei um tanto critica essa visão, hoje percebo a coerência das palavras.

    Otimo texto!
    Bju,bju,bju!

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    1. E essas palavras continuaram a ter a sua coerência por um bom tempo, kami.

      Valeu pelo elogio. Abraço.

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  7. Ontem mesmo eu estava falando sobre essa questão cultural dos países... aqui no Brasil um caminhão do q quer q seja se envolve num acidente e o povo pára o trânsito pra saquear, esquecem até de ajudar o motorista q provavelmente está machucado, no japão você pode abandonar sua casa numa situação de alerta e voltar dois dias depois e está tudo do jeito q você deixou.

    somos um povo acomodado, queremos tudo mastigado e gostamos do mal feito, isso é fato desde q o mundo é mundo e descobriram o Brasil. é uma pena e triste a herança q estamos deixando pros nossos filhos.

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    1. Pois é, Sentimental. Depois botamos a culpa nos políticos, quando na verdade o problema é com o povo. Nem nossos representantes são escolhidos adequadamente: Tiririca, Romário, Frank Aguiar...

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  8. tem circulado por email uma mensagem muito legal q compara os hábitos das pessoas comuns ao q os políticos fazem, e na boa? é verdade. estamos acostumados a ver o povo dando o jeitinho brasileiro em tudo. e no mais, somos nós q escolhemos quem vai nos representar... um espelho?

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  9. Pelo menos o Tiririca assume que é palhaço, não é?

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  10. né?
    e continua "trabalhando" em seu ofício original, o q é pior. mas claro, já aprendeu a arte da roubalheira, senão ele não seria brasileiro.

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  11. Rs!

    Começo o texto rindo, porque estava pensando sobre isto, nestes últimos dias!

    A falta de assunto e de conteúdo das pessoas a minha volta!

    Não sei se estou em um círculo errado, ou seja algo que, ainda não consigo compreender, mas sinto falta de bater um papo "diferente e mais intelectualizado".

    Digo sobre cultura, filmes, revistas, filosofia, psicanálise, literatura, exposição, enfim, tudo relacionado a algo mais interessante! E, quando começo a expor um diálogo deste tipo, vejo que as pessoas nem dão bola. Sinceramente prestam atenção e não dizem nada. Claro, não entenderam ou nem sabe sobre o que eu estou argumentando. Agora se eu começar a falar sobre BBB, novelas, Pânico na TV, Datena, Mulheres Ricas ou algo deste "naipe", confesso (amargamente) que o assunto irá se estender intensamente.

    Nesta última semana, perguntei a um colega do trampo, se alguma vez ele tinha lido a Revista Super Interessante. Sabe o que ele respondeu? "Não. Sobre o que fala?". Imediatamente, voltei a tela do meu computador e disse: "Deixa para lá!"...

    Abstrai Senhor da minha vida!

    Beijos

    Obs: Perfeito o modo como escreve! Excelente na articulação das palavras!

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    1. Não acho que você esteja no círculo errado, Suzi. No ambiente onde trabalho também me relaciono com pessoas que são muito legais, mas não conversam comigo sobre algo mais cultural. E, quando vou falar de algo literário, eles mo tomam por chato. Então, tenho que engolir tudo o que falam. Eu fui assinante da Super por três anos. É, de fato, uma grande revista e lamento muito que seu amigo nunca tenha lido. Por conta de falta de tempo, interrompi a assinatura. Hoje assino apenas os jornais Folha de S. Paulo e Estado de São Paulo para fins de semana.

      Obrigado pelos elogios!
      Beijo.

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