quarta-feira, 17 de abril de 2013

Quinze dias

O escritor Milton Hatoum disse em palestra que escreve uma crônica por mês, pois não dá conta de fazê-lo de maneira forçosa com periodicidade menor que essa. Segundo ele, durante vinte e dois dias, uma idéia sobrevoa sua cabeça, até que, no vigésimo terceiro, o cronista “cata” esse pensamento tal fosse uma mosca, senta e escreve.

O romancista e jornalista Rubem Mauro Machado diz que só escreve munido de uma idéia precedente ao texto, sendo impossível concretizá-lo se a mesma já não estiver constituída. O silêncio também é algo imprescindível em sua atividade criativa.

Tony Bellotto só consegue escrever suas narrativas policiais pela manhã, quando sua mente está descansada e cheia de vigor. Depois desse período, a turbulência do dia-a-dia torna a produção literária praticamente impossível.

Moacyr Scliar era uma máquina de produzir estórias. Mesmo em um saguão de aeroporto lotado, enquanto esperava por seu vôo, ao gaúcho bastava apenas sentar e abrir seu notebook sobre as pernas que as palavras pululavam para a tela digital.

Marçal Aquino afirma só fazer literatura em cadernos manuscritos. Anota todas as idéias que de supetão lhe vêem à mente em pequenos pedaços de papel, que são cuidadosamente guardados, até o momento de serem agrupados e formarem uma excelente narrativa.

Para manter um período de regular criação, eu, leitor assíduo dos textos da autoria dos sujeitos acima citados, resolvi acatar a um bocado de cada técnica ritualística. Escrever é uma das atividades que me causam mais sofrimento e prazer, pois meu processo de criação passa pela caneta tinteiro ou lapiseira, em um rascunho, antes de o resultado final chegar à tela do computador. É como se essa dolorosa labuta servisse para eu mostrar a mim mesmo que estou vivo e ainda ajo como ser pensante (mesmo quando as idéias estão embaralhadas e se transformam em nada).

A partir dessa data, esse espaço passa a ser atualizado quinzenalmente, às quartas-feiras, com o intuito de que as idéias sejam trabalhadas e revisadas com vagar e tranqüilidade (será?) e os textos aqui publicados valham a pena serem lidos.

7 comentários:

  1. Sofrimento & prazer: rotina x Rotina de sofrimento & prazer? Acho que vai dar samba!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Isso de como surgem as ideias é realmente tão interessante quanto particular. Comigo eu começo a perceber uma só tema em várias coisas. De repente, tudo o que leio é sobre isso, as músicas que ouço também, assim como as aulas, as conversas que eu tenho e o que eu sinto. Então eu escrevo (se for tranquilo eu até coloco no blog ou mostro pra amigos, se for cabeludo, vai pro diário), então essa coisa sai de mim e fica registrada pelas palavras.

    E espero a sua "regularidade criativa". Abraço.

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  4. não se dê prazos, períodos, não marque nada, deixe fluir...

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  5. Murilo e seus prazos.

    aos poucos você vai se libertar das amarras, você vai ver. :)

    me identifiquei com o estilo do Marçal Aquino. Adoro escrever minhas idéias em pedaços de papel, para serem desenvolvidos mais tarde. as vezes é apenas uma frase, não importa, escrevo.

    Boa sorte na sua nova organização !

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  6. Qual a sua opinião sobre os livros de Tony Beloto? ...http://grandeonda.blogspot.com

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    1. Então, Carlos, nunca li nenhum. Apenas ouvi falar sobre as tramas policiais envolvendo Bellini, mas nunca tive a oportunidade de ler. Sou leitor apenas de suas crônicas no Blog da Companhia das Letras. Os poucos que me deram opiniões a respeito dos livros, classificaram-no como um escritor mediano.

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