O sucesso de bilheteria e crítica do filme As aventuras de Pi, dirigido pelo cineasta Ang Lee, ressuscitou uma antiga discussão que era por muitos desconhecida. O longa é baseado no romance do canadense Yann Martel. A trama mostra o menino que passa um longo período a bordo de uma jangada, tendo como única companhia a figura de um gigantesco tigre.
O problema é que, para conceber sua mirabolante história, Martel baseou-se na ideia do escritor brasileiro Moacyr Scliar (1937 - 2011), que já havia escrito uma pequena novela, na qual um garoto convive por certo tempo, em um minúsculo escaler, junto de um jaguar. Na opinião de muitos, plágio.
Para piorar, quando seu livro foi lançado, o canadense criticou a trama imaginada pelo gaúcho, dizendo ser uma ideia muito boa, porém pouco trabalhada. O brasileiro, apesar de dizer não ter se importado, foi desmentido por seu ex-editor Luiz Schwarcz, em recente artigo publicado no Blog da Companhia das Letras.
Então, por conta dessa polêmica reavivada, cheguei ao livro inspirador da obra literária que foi adaptada para o filme hollywoodiano. Max e os Felinos trata da história do jovem alemão Max Schmidt, que é obrigado a deixar seu país com destino ao Brasil por conta da ascensão do partido nazista. Ele não era de família judia, mas envolveu-se com a mulher de um membro do partido.
Contudo, os temores de Max não estavam relacionados apenas com os futuros causadores da Segunda Guerra Mundial. Seu pai era dono de uma loja de pelagens, onde havia um imenso Tigre de Bengala empalhado, fruto de uma caçada bem sucedida. A figura do gigantesco felino é um trauma de infância que o atormentaria pelo resto de sua vida.
Durante sua fuga, o navio que o levava para a América do Sul acaba por naufragar. O jovem alemão consegue escapar ao embarcar em um remanescente escaler. Além dele, a embarcação tinha como passageiros animais supostamente destinados a um zoológico a ser montado no Brasil. Inusitadamente, um jaguar sobrevive ao naufrágio e pula para o pequeno barco ocupado pelo garoto, que é obrigado a usar de diversos artifícios para não ser devorado pelo selvagem predador.
Max não sucumbe ao jaguar. Chega ao Brasil, envelhece e constrói seu espaço. Porém, à medida que o tempo passa, surgem, tanto para o protagonista quanto ao leitor, inquietantes dúvidas: Max realmente viajou na companhia de um jaguar? Não teria sido o animal apenas produto da conturbada imaginação de um garoto temente a figuras felinas? Qual a espessura da barreira entre real e imaginário?
Assim como nos livros O centauro no jardim e A mulher que escreveu a bíblia, Scliar, com sua fluente narrativa, mostra toda a riqueza e criatividade do seu imaginário. Cabe ao leitor, por meio da aparente simplicidade presente na trama narrada em Max e os Felinos, responder a tais questões e não cair não nas armadilhas literárias de Moacyr Scliar.
Afinal, em nossas mentes, todos nós temos nossos próprios e ferozes felinos.
Uma coisa é plágio, outra é escrever baseado ou inspirado em um determinado objeto. Uma coisa é comentário, outra é crítica negativa ou mesmo ataque aberto contra determinado sujeito. Essa aí do sr. Martel, hein? Por quê que ele ficou na defensiva logo de cara? Será que isso não foi uma "manobra de diversão" para que o público de nada desconfiasse?
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ResponderExcluirAinda não assisti "As aventuras de Pi" e não verei até que consiga- antes de tudo- ler o livro do Moacyr.
ResponderExcluirLembro que li a sua resenha sobre "O centauro no jardim" e fiquei encantada. Agora, "Max e os Felinos".
Preciso ler mais desse nobre senhor.
Saudações!!! Há algum tempo que não passava por aqui. Você explanou sobre o autor e a obra com muita leveza. Parabéns.
ResponderExcluirMuito boas suas observações sobre Max e os Felinos e As aventuras de Pi". Parabéns!
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