Texto publicado no blog Caneta Tinteiro.
Afinal, o que é real ou imaginário?
Assim como Dr. Martin Harris (interpretado por Liam Nesson) em Desconhecido (Unknown, 2011), Jason Teverner, o protagonista do romance Fluam, Minha Lágrimas, Disse o Policial, da autoria de Philip K. Dick, não é mais reconhecido por seu público e tão pouco pelas pessoas tidas como próximas a ele.
Cantor e apresentador de um programa semanal visto por 30 milhões de espectadores, Taverner sofre um atentado e acorda completamente incógnito. Perdeu os sentidos como celebridade e despertou um simples anônimo, sem documentos ou influência, num futuro em que identidade é tudo. Colocado como "despessoa", Jason corre contra o tempo para descobrir se sua verdadeira linha temporal é a anterior ou a atual.
Nessa ficção científica, Dick apresenta Los Angeles, a capital do romance policial pulp, comandada por um Estado policial autoritário e repressor. Uma distopia, como a criada por Alan Moore e David Lloyd em V de Vingança, na qual os cidadão são vigiados em tempo integral, tendo o seu direito de ir e vir confiscado.
Os estudantes das universidades são marginalizados, classificados como poderosa ameaça à organização social. Com isso, permanecem aprisionados e isolados nas instituições acadêmicas.
Infratores são condenados aos campos de trabalho forçado, uma vez notado pela polícia, não é mais possível passar-se despercebido. O homem mais discreto acaba perseguido pelo implacável e metódico aparelho de segurança estatal.
Essa situação cria humanos paranoicos, desprovidos de sentimento. O sofrimento é a única saída para sentirem algo numa realidade controlada por máquinas inteligentes, idealizadas por eles próprios.
Personagens como essas são expostas pelo autor e podem ser exemplificadas na figura de Kathy, uma garota em crise existencial que passou por tratamento psiquiátrico e questiona-se o tempo todo a respeito de sua sanidade mental, pois não sabe se o que vive é produto de alucinações.
Escrito em 1970, o livro apresenta um cenário parecido com o que estamos vivendo, em que as pessoas, reféns das redes sociais, dopadas pela mídia e reprimidas pelo sistema policial e político, estão cada vez mais distantes de sua humanidade.
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