domingo, 12 de agosto de 2012

Um pesadelo

Na última segunda-feira, a TV Cultura exibiu, ao vivo, o programa Roda Viva no qual o entrevistado foi ninguém mais, ninguém menos que Jânio de Freitas. Para quem não sabe, trata-se de uma lenda viva do jornalismo brasileiro, que trabalhou em grandes jornais do país. Um dos seus mais notáveis feitos foi a reforma editorial do Jornal do Brasil, enquanto seu editor-chefe. Atualmente, mantém uma coluna no caderno Poder, da Folha de S. Paulo. Foi uma verdadeira aula de jornalismo, em que o entrevistado criticou diversas falhas da imprensa atual, como a falta de identidade de diversos jornais (seriam imitações do Jornal do Brasil), as "legendas para cegos" no próprio jornal onde trabalha (tratariam o leitor como um "bobão"), jornalistas que não lêem jornal e falou também sobre sua infelicidade por ter escolhido a profissão que exerce (gostaria de ter sido piloto). Mas o ponto que mais me chamou a atenção foi quando lhe foi indagado a respeito do futuro do jornal impresso.

Jânio analisou que em cada meio pelo qual o jornal é oferecido, seja ele impresso ou virtual, há um tipo de leitor. Hoje, nos jornais de papel, ao final de cada matéria, há a sugestão de que se leia mais sobre aquele assunto na página virtual do diário. Deverá o leitor então correr até o computador, ler o que lá está, abrir o jornal novamente, ler, acessar a internet de novo, num eterno e atordoador vai-e-vem de mídias? Segundo o jornalista, o leitor de um é completamente diferente do outro, sendo eles buscadores de assuntos e modos de se ler uma notícia distintos.

Desnecessário dizer que concordo com o que foi dito. Considero inimaginável um mundo sem jornais impressos. Foi por meio deles que foram publicados de maneira pioneira grandes clássicos da literatura universal. As crônicas e colunas analíticas são apresentadas e lidas de maneira mais eficiente no papel. Quando abro um jornal impresso e, acima de tudo, concreto, busco ler o que ali se apresenta calmamente, da maneira mais concentrada possível. Essa tranquilidade não é encontrada virtualmente, já que ali se apresentam, juntamente com o texto, um amontoado de novos links que remetem a acontecimentos de última hora. Quando me dou conta, há uma infinidade de janelas abertas, e nem uma coisa, nem outra, está sendo lida. É um verdadeiro caos informativo.

Não descarto a importância da página virtual. Sua utilidade se dá pela prontidão com que os acontecimentos são expostos e também para o leitor que busca ler algo de maneira rápida e sucinta. É importante a manutenção de colunistas e jornalistas virtuais, que se utilizem de uma linguagem própria para aquele meio. Um modo de escrita mais intenso e analítico é apropriado para a mídia de papel. Também não se pode negar a importância das redes sociais para a boa informação. Toda empresa de jornalismo obrigatoriamente possui uma ramificação no Facebook ou no Twitter, que ajudam a propagar novos e recentes furos.

Penso que, conforme Jânio mais ou menos explicitou, o jornal impresso não deve ser banido em prol da tecnologia. Ele deve, sim, adaptar-se aos novos tempos, assim como o jornalismo busca aprimorar-se de acordo com as exigências de um mundo cada vez mais veloz. Já se fala na extinção das bancas de jornais e revistas. Alguém aí quer que isso aconteça, e que o hábito de ir ao encontro do jornaleiro numa manhã de domingo, com a finalidade de adquirir seu exemplar mensal, semanal ou diário, seja perdido?

Eu, sinceramente, considero essa possibilidade não como um futuro, mas sim um pesadelo.   

5 comentários:

  1. Pois é, Murilo, gostei muito dessa entrevista também. Um senhor jornalista! Meio mal humorado, porém deu uma aula em várias de suas análises sobre essa profissão tão interessante. Hoje mesmo eu lia algum comentário sobre a “novela” da necessidade ou não de se ter o diploma para exercer a carreira. Se você pensar que o Drummond e tanto outros ótimos escritores, brasileiros e estrangeiros e outros ótimos jornalistas nunca tiveram esse diploma específico, fica difícil apoiar a legalidade. Por que nós da Letras não podemos ser também jornalistas? A linguagem própria do meio, como você já citou em algum de seus posts, e também menciona neste, é algo que se aprende na convivência e na sabatina das redações, é a práxis, ou não? O fundamental é escrever bem, de modo atrativo, convincente, ou mesmo polêmico. Acho que do mesmo modo que o livro, os demais elementos impressos não deixarão de existir; ainda há um grande publico para isso, e claro, um grande mercado. Nós que gostamos de folhear, ir e voltar as páginas de um periódico, sem dúvida agradecemos.

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  3. um adendo: O L. F. Verissimo fala sobre a questão do desaparecimento dos livros em sua cronica no Estadão de hoje, vale ler.

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    1. Valeu pela dica, Nicole! Pois é, tomara que os livros, assim como os vinis, tornem-se um tipo de resistência a essa modernidade. Veríssimo sempre sábio.

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  4. eu tenho muito medo de tudo virar link...
    gosto de ficar com a mão suja de jornal, gosto de virar a folha de livro, e tenho o péssimo hábito de acompanhar o texto com a ponta do dedo.
    acho q aqui em Brasília temos sorte, o site do jornal local, sempre ao final dos textos, tem uma frase em negrito dizendo: Leia mais no jornal impresso!
    E não, por favor, não acabem com as bancas de jornal... onde vou comprar os livros de palavras cruzadas???

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