domingo, 5 de agosto de 2012

A cachola e a pena que não descansam

Há alguns dias, descobri por meio da recomendação feita por minha comparsa poeta e blogueira Nalú Baptista (escreve regularmente no blog Janela Inteligível), o site oficial de Vinicius de Moraes. Para mim, o poetinha sempre foi sinônimo disso mesmo, de poesia. Porém, nesse espaço virtual, estão disponíveis textos que remetem à face cronista do escritor e compositor, que é tão maravilhosa quanto as outras já conhecidas.


Em um desses textos, Vinicius trata de um assunto do qual, de certa e indireta forma, já tratei aqui: a dificuldade que o cronista encontra para manter uma produção textual regular e inspirada. Disserta ele que, diferentemente do romancista, que já tem em mente sobre qual assunto escrverá, o cronista encontra-se muitas vezes em um beco sem saída repleto de indagações com relação a qual assunto escrever.

Qual pauta ou notícia seria merecedora de destaque? O escabroso sistema político em vigência? As eleições municipais, com candidatos desprovidos de qualidade, que se aproximam? O futebol brasileiro carente de times que encantem a seus torcedores? Algum filme assistido? Um livro que está sendo lido? Uma música que não sai da cabeça? Um acontecimento inútil no cotidiano do escritor?

As possibilidades dubitosas, de fato, são inúmeras. À elas juntam-se as dúvidas com relação à principal força de combustão do cronista, simbolizada pela figura do leitor. Por conta da correria cotidiana, muitos (e eu sou um deles) abrem um diário ou periódico apenas para apreciar uma ou duas crônicas, deixando as notícias de lado. Se o cronista não mais corresponder às expectativas criadas por seu receptor, este procurará em outros impressos uma forma de entretenimento intelectual rápido para o seu dia-a-dia.

O mesmo ocorre com os blogs. Há mais ou menos oito meses sinto na pele o árduo desafio de manter esse humilde espaço ativo. Dias infrutíferos como os de hoje, em que aquela ideia inspiradora, que me faz pegar a caneta e escrever de forma compulsiva e desenfreada, simplesmente não vem, são, deveras, desesperadores. Vazios criativos como esses me fazem questionar a mim próprio se realmente tenho o talento necessário para produzir bons textos, ou se eles não passam de frutos de algum lapso poético. Mas, quando olho para os quase cinquenta escritos aqui registrados, não posso deixar de sentir certo orgulho, pois em cada post há erros e acertos que foram corrigidos e melhorados, respectivamente, impulsionando-me a criar, nem sempre de forma competente, novas divagações.

E, é claro, por conta desse espaço pude conhecer outros escrevinhadores que, assim como eu, buscam manter a cachola sempre funcionando, como a Nalú, citada no início desse texto, e o já consagrado e imortalizado e igualmente aqui referenciado Vinícius de Moraes. É graças a esses e inúmeros outros artistas que não deixo descansar a pena.

Até o próximo domingo!

7 comentários:

  1. Quanta honra Murilo! Ser citada nesse espaço que sempre visito e ainda em um texto onde você menciona meu amado poetinha... que presente.

    Sobre o texto, gostei muito. Não sinto a pressão de prazos e assuntos, já que não faço posts regulares como você. Escrevo quando o mote me procura, mas mesmo assim é sempre difícil domar as palavras para alinha-las no papel.
    Como disse Paulo H.Britto, tem vezes que

    "A ideia resiste ao verso,
    o verso recusa a rima,
    a rima afronta a razão
    e a razão desatina".

    Abraço.

    ResponderExcluir
  2. a cachola e a pena não descansam ... estão sempre procurando atividade. mesmo que não exiba nenhuma produção, foi porque produzi e não exibi.
    gosto de escrever no papel e ir exibindo aos poucos, ou escrever na mente e deixar salvo na memória.
    mas quando os momentos de branco e falta de inspiração se fazem presentes ... Ô desgraça !
    imagino que escrever como uma obrigação é como ter que entregar aquela redação exigida na escola pela professora. a inspiração não vem de jeito nenhum ! eu não consigo.

    Você está indo bem ! Mas não pressione tanto a sua cachola, nem sua pena. não deixe que escrever se torne um fardo. ;)

    ResponderExcluir
  3. acho q esse é um problema comum aos usuários de blogspot... hehe
    mas na hora certa acaba aparecendo o assunto a ser tratado e aí fica tudo mais fácil.
    ninguém disse q escrever era fácil, ainda bem.

    ResponderExcluir
  4. Conforme lia o texto, ia balançando a cabeça e concordando com tudo o que estava lendo. Desse modo, o que mais me chamou a atenção foi a seguinte dúvida "me fazem questionar a mim próprio se realmente tenho o talento necessário para produzir bons textos". Particularmente achei um absurdo. Sua capacidade de diversificar assuntos e abordar de diferentes maneiras o mesmo tema são invejáveis. Lembro-me muito bem do outro texto, inclusive citado por você, retratando a mesma angústia de qualquer escrevente em meio a síndrome do papel branco. Você soube falar do mesmo assunto, destacando outros aspectos, embutindo intertextualidade. Enfim, um novo texto.
    Nunca questione seu talento e sinta sempre orgulho de tudo isso que já escreveu. Adorei o texto.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  5. Lembrei de você: http://livroseafins.com/5-solucoes-para-o-bloqueio-criativo/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, Sentimental! Já favoritei. Acho que vai ser muito útil relembrar essas dicas quando houver algum bloqueio por aqui.
      Valeu, mesmo, por ter se lembrado de mim.

      Abraço.

      Excluir