segunda-feira, 21 de maio de 2012

Calos de escrita

No conto intitulado "Olhar", Rubem Fonseca nos apresenta seu protagonista altamente erudito, escritor por profissão. A personagem relata que, para exercer sua função, todo um ritual é necessário, indo de um certo tipo especial de papel importado da Espanha até sua caneta tinteiro. Mas o mais interessante é sua opinião com relação aos escritores contemporâneos: considera-os idiotas por acharem que realmente escrevem, ao utilizaram microcomputadores.

De fato, esse aparelho ágil, munido de teclado confortavelmente ergonômico, ajuda muito no que diz respeito à construção e eliminação de frases, obedecendo ao fluxo dinâmico de pensamento. Todos os textos que aqui escrevi foram concebido originalmente no editor disponibilizado pelo blog.

Coincidentemente, no momento em que escrevo à mão essas palavras, encontro-me em uma aula de Aquisição da Escrita. Discute-se a perda do hábito da escrita manual, devido às facilidades da digitação. O principal "porém", nesse caso, é que quando escrevemos com o auxílio de grafite ou tinta, memorizamos tudo o que rabiscamos. Particularmente, meus estudos são muito mais produtivos quando não apenas leio, mas também reescrevo as ideias abordadas.

Na FLIP do ano passado, assisti à mesa com a máquina de escrever romances policiais, James Ellroy. Nessa ocasião, o escritor estadunidense revelou que possui mais de cinco mil páginas em rascunhos, que remetem às suas tramas fictícias, escritos à mão, além de se dizer não possuidor de computador. Todas as suas narrativas são transcritas por sua secretária. Assim como a personagem de Fonseca citada acima, diz não conseguir imaginar outra maneira de produzir que não seja do jeito tradicional (ou quem sabe, nos dias de hoje, acaico?).

Confesso que, agora chegado o último parágrafo desse texto, raciocinei e elaborei mais produtivamente o que foi aqui escrito. A escrita manual, por mais incrível que possa parecer, é algo, para mim, prazeroso. Um folha de papel carregando um emaranhado de letras feitas caligraficamente é tal como uma pintura. Olhando para o meu calo de escrita, protuberância presente no dedo médio de minha destra, pego-me a pensar se no futuro haverá pessoas que possuam tal lesão. Pois, no cenário atual, esferográficas e lápis, os seus principais causadores, caminham para a aposentadoria. 

5 comentários:

  1. quando não escrevo, sinto que não vivo.
    é necessidade possuir anotações dos meus dias, minhas horas, crises e momentos de felicidade.
    percebo que é no papel que as epifanias me encontram.

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  2. Tenho que confessar que aposentei a um tempo a escrita manual, a utilizo apenas quando alguma ideia resolve fazer uma visita num lugar onde eu não tenha meu computador por perto (como numa aula de aquisição da escrita, por exemplo).
    Todos meus cadernos sempre tem suas últimas folhas impregnadas de versos soltos, ideias para "uma outra hora". Às vezes desenvolvo, às vezes não. Ler depois de um tempo essas páginas é algo que muito me agrada.
    Queria dividir com você que ultimamente tenho utilizado outro recurso para "escrever" meus textos. Coloquei entre aspas porque não trata de escrevê-los e sim gravá-los.
    Dificilmente com contos, geralmente poesias e músicas. Estou tomando a prática de quando a ideia começa a se formar na mente eu não recorro ao papel e sim, ao gravador de som.
    Me parece que esses textos saem mais espontâneos e me permitem uma dinâmica maior, depois passo para o computador e aí vem a parte de lapida-los.
    Gosto de digitar, de gravar, mas (como você mesmo já disse) clássicos são clássicos. Nada como uma folha de papel e uma caneta bic na mão.

    Bom texto Murilo.
    Abraços.

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    1. Uma blogueira com quem mantenho contato também diz que se utiliza dessa técnica de transformar ideias em sons e gravá-las, Nalu. Tentei fazê-lo, mas não consegui engrenar. Você credita que achei estranho ficar escutando a minha própria voz? Escrever manualmente, com letras de forma, ainda é minha válvula de escape preferida. Ah, e, clero, com uma boa Bic.

      Abraço.

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  3. Eu tenho calo... e com orgulho! não sei fazer nada se não for escrevendo, mesmo q aquilo não me sirva pra nada depois. escrever com caneta ainda é mais terapia do q escrever digitando. pena q o hábito esteja sumindo. adoraria receber uma carta escrita de próprio punho, cansei de emails, quero a delícia de abrir um envelope.

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  4. Parabéns pelo texto. Também tenho calo no dedo médio da mão direita desde criança. Olhando para o calo, me dá impressão que meu dedo é torto (risos), mas adoro escrever. Tenho mania de anotar tudo a caneta.

    Mônica

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