sexta-feira, 2 de março de 2012

Sossego

Já há algum tempo tenho na mente a fixa ideia de abandonar a cidade e passar a morar em um local tranquilo, de preferência um sítio ou algo do tipo, com profissão igualmente pacata. Depois de todos esses anos trabalhando em um conturbado e barulhento meio industrial, prezo hoje em dia por sossego, ar puro, silêncio e ambientes com poucas pessoas.

Uma das coisas que me inspiraram a pensar dessa maneira foi um texto que li no ano passado, do articulista e ex-jogador de futebol Tostão, que escreve no jornal Folha de S. Paulo. Nessa coluna, ele relatava sua passagem pela Holanda durante as férias e que lá havia visto um homem que lhe causou inveja por conta de sua moradia: esse indivíduo tinha como moradia um simples barco, ancorado na beira de um rio. Lá, cultivava flores e tinha um notebook em sua mesa, além de ser brindado com um pôr do sol diariamente magnífico.

Depois de ler esse texto, construí, em minha cabeça, um lar que eu hoje em dia consideraria ideal: uma pequena casa em um pequeno sítio, onde haja fogão um bom fogão de lenha, rede e cadeira de balanço; para sobreviver, eu trabalharia como colunista para alguns jornais e revistas literárias, ganhando apenas o suficiente para manter uma boa biblioteca e um acervo de filmes e discos razoável; e, claro, um computador que me manteria conectado ao meu trabalho e me permitiria assistir aos acontecimentos do mundo de uma distância segura.

Podem me chamar de anti-social, mas esse é um mundo no qual eu viveria com enorme prazer, pois essa onda cibernética e avassaladora das redes sociais, em que tudo se renova de minuto a minuto, é algo que me fez perder um pouco de esperança na humanidade. Sei que elas têm sua importância, como eu já escrevi nesse espaço em outra oportunidade, mas isso não quer dizer que eu tenha sucumbido à elas.

Ah, já ia me esquecendo: para não dizerem que sou um ermita, eu poderia viver acompanhado de uma dama que também apreciasse esse sossego desassossegado. 

24 comentários:

  1. Gostei bastante desse seu texto.
    E saiba que almejar um ambiente sossegado, num sítio com rede e cadeira de balanço não tem nada a ver com ser anti-social.

    Durante essas férias tive a oportunidade de estar em um ambiente exatamente da maneira que descreveu, acrescentando uma horta de morango e um rio passando pelo terreno. Confesso que antes de passar por essas pequena experiência, queria apenas viver no meio urbano, perto do meu trabalho. Porém depois, acho que um campo seria a melhor alternativa, é uma paz incomensurável.

    Beijos!

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    1. Digo que pode ser anti-social, Pérola, porque vai contra tudo o que as redes sociais pregam. O bom de as aulas terem voltado é que eu me mantenho longe delas.
      Achei bem legal esse cenário das suas férias. Uma horta de morango e um rio nesse meu sítio, por enquanto, imaginário, seriam coisas bem legais.

      Abraço.

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  2. fugere urbem !

    esse seu texto me lembrou os poetas árcades :) contemplar a vida simples, fugir da cidade, a tranquilidade da natureza ... só falta escolher um pseudônimo. ou já tem ?

    a loucura da cidade muitas vezes é pertubadora. eu entendo essa tua vontade de "fugir" para um lugar mais tranquilo. essa vontade também existe em mim. todo dia eu perco um pouco de fé na humanidade, mas todo dia algo faz com que ela se renove. simples gestos. pessoas simples.

    acho que todo mundo devia ter essa experiencia, de fugir da cidade e encarar a vida de forma mais tranquil, mesmo que só para renovar as energias.

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    1. Confesso que não cheguei a pensar no arcadismo, mas sim no realismo do Eça de Queirós, como o descrito em "A cidade e as serras", em que Jacinto, um urbanista moderno de carteirinha, troca a cidade ao conhecer os encantos do campo.

      Abraço.

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  3. Há um filme, "A última estação", que conta um pouco do final da vida do grande Tolstoi, quando ele então, escreve um tratado renunciando bens e propriedades, abrindo mão do direito autoral de sua obra, transformando-a em bem público, e cria um tipo de sociedade onde as pessoas só produziam o suficiente para viver e só comiam ou vestiam o que era fruto de seu próprio trabalho manual. E também, pregava o vegetarianismo. Para mim é uma imagem maravilhosa, embora saiba o quão difícil deve ser. Contudo continuo com esse sonho, o do contato com a natureza,que para mim é fundamental. Mesmo assim não deixo de "tentar" ser cosmopolita,já que adoro os grandes centros, a arquitetura, o acesso a cultura, a arte em geral, e outras coisas ilusórias do capitalismo. O genial Bertolucci, disse uma vez em uma entrevista no programa "Gente de expressão", quando falava da mágica do cinema: "tutti ilusione", e essa para mim é a máxima da vida, tudo é ilusão. E em muitas, é muito bom estar iludido.

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    1. Também gosto de certas modernidades, Cris. Como eu citei no texto, levaria um computador e um aparelho de som. O motivo pelo qual eu gostaria de "fugir" talvez seja o aglomerado humano barulhento que infesta as cidades.
      Gostei da dica de filme. Conferirei.

      Abraço.

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  4. sempre q penso em mudar de vida a minha idéia é de alguma coisa calma, no campo, sem muita gente por perto, não gosto de lugares cheios. a idéia do texto muito me agrada, seria interessante sair da cidade grande e viver assim. falta só a casa no campo.

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    1. eu acho q toparia até uma cidade pequena, o problema é q as coisas estão chegando muito rápido, até no interior.

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    2. Eu moro em uma cidade relativamente pequena no interior de São Paulo e você tem razão no que diz respeito à velocidade das coisas. Aqui tudo é tão rápido quanto em qualquer outro lugar. As únicas coisas que demoram para chegar aqui são certos filmes.

      Abraço.

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  5. Acho que essa vida jamais seria pra mim. Eu tenho aversão a lugares calmos e sem gente em volta. Eu vou murchando e ficando deprimida. E olha que sou bastante seletiva e até antissocial, mas gosto de pensar que vou sair ali fora na rua e vai ter um comércio fervendo, carros passando, muita gente na rua. Eu sou essencialmente urbana. Então o sonhos de uma casinha na fazendo definitivamente não é pra mim.. rsrs.

    Beijocas

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    1. Conheço muitas pessoas que têm esse mesmo gosto, Dama. No meu caso, eu muito me inspiro nas estórias de Guimarães Rosa. Há um conto intitulado "Nada e a nossa condição", em que ele criou uma frase que muito me marcou, a respeito dessa vida mais solitária: "Sozinho, mas não triste".

      Beijo.

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  6. eu adorava passar férias na casa da minha irmã, ela mora no interior de goiás, mas agora não tenho nem vontade de ir até lá, antigamente só tinha um bar, um médico q também era o prefeito da cidade, 3 lanchonetes q eram o ponto de encontro do povo, hoje tem cinema, vários restaurantes, boites, bares, hospitais e clínicas, academias e é uma das mais famosas do goiás no carnaval de rua. não é mais interior. lembro qndo minha irmã mudou pra lá, só tinha um post de gasolina, hj já perdemos as contas.

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  7. As vezes a noite, me imagino num lugar desses, me ajuda a relaxar e dormir. http://grandeonda.blogspot.com

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    1. Tirar um cochilo em um lugar relativamente bucólico, esticado em uma rede, é algo deveras a se considerar.

      Abraço.

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  8. Rs!

    Que fofo seu comentário. Quem realmente vive em uma selva de pedra ou em um ambiente que desconforte nossos neurônios, quer imensamente sossego...

    Claro, nem todos. Eu pelo menos, moraria em um lugar mais calmo, porém em algumas situações, eu correria para a cidade grande, pois sei que iria sentir falta de algo que não obtivesse no lugar pacato...

    Quanto às redes sociais, tenho sim o meu perfil, mas cada vez que entro lá, vejo coisas mais negativas do que positivas. E, quando saio da rede, sinto não um vazio, mas uma espécie de pensamento agourento: "o que eu estava fazendo ali?"... Pois é... Analiso cada comentário tosco que recebem milhares de "curtir" e quando vejo algum post interessante ou mesmo importante, ninguém comenta, ninguém compartilha, ninguém "curte" nada! Aí, eu começo a pensar: "Será que quero continuar participando disso tudo ou os meus pensamentos que não batem com 99% dos perfis adicionados a minha conta?"

    Sei lá!

    Acho que ser anti social será a minha "sina" também!!

    Beijos!

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    1. No aspecto do sentido das redes sociais em nossas vidas, penso exatamente como você. É difícil entender o por quê de não desligarmos o computador e abrirmos um livro ou assistirmos um filme. O que, afinal, queremos provar nas redes sociais? Que somos inteligentes e providos de cultura? Eis a questão...

      Beijo.

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  9. Vc descreveu com perfeição a vida que eu queria ter,
    mas que infelizmente não poderei tão cedo executar...
    Se isso for anti social,somos dois então!
    Beijo!

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    1. Pois é, Afrodite, eu também não desfrutarei tão cedo dessas regalias bucólicas. Vou ter que trabalhar muito para chegar até lá.

      Obrigado por reaparecer.

      Beijo.

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    2. Ahá, que espertinho, tem que ter uma dama, claro... nao te ahco nada antisocial. Acho que cidade grande estressa demais! E nao queor mais morar em cidade grande.

      Sabe o que eu mais gosto aqui Murilunk? A paz de poder sair com meu bebe de carrinho tranquilamente e de forma segura. Isso pra mim é qualidade de vida. Mas adoro uma casinha simples num sitio, viu?

      Ps. pra mim tbm, cara ,saber que estava na casa do grande Claúdio Manoel da Costa era uma coisa grandiosa! De vez em qd aparecia um turista, fotografando ou querendo entrar. O lugar é tao incrível, eu adorava, vc respira Historia.

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  10. Hahahaha! Nossas vidas não sem um drama, este inspirado pela teledramaturgia. Mas, agora falando sério, algumas pessoas que conheço me tomam dessa maneira quando expresso meu desejo de me afastar da cidade. O pessoal quer mesmo é aglomerar.

    PS: e deve ser um lugar, bem, hã, sossegado. ;)

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