domingo, 22 de julho de 2012

Um mundo perturbador

O cinema, por meio de seus diretores, torna algumas sucessões de cenas inesquecíveis, mesmo elas sendo de caráter fictício, na vida dos que o apreciam. Mais do que gravar (ou cravar?) na memória do telespectador uma trama e seu desenrolar, alguns filmes são feitos para perturbar, pois mesmo eles sendo histórias elaboradamente inventadas, chocam dada a proximidade do simples cotidiano vivido por reles mortais.

Stanley Kubrick, por meio dos longas "Laranja Mecânica" e "Nascido para matar", mostrou primorosamente que o mundo real é um lugar podre, onde não há esperança de cura para a insanidade daqueles que praticam perversidades. Seja inserido em uma sociedade conservadora ou durante uma guerra, o ser humano pode tornar-se a criatura mais perversa que já existiu, praticando estupros, roubos, vandalismos e assassinatos cruelmente impiedosos como se tudo isso fosse normal ou pertencesse ao livre arbítrio.

Sergio Leone, John Ford e Clint Eastwood foram criadores de histórias localizadas no velho oeste estadunidense, em que mocinhos benfeitores duelavam com bandidos perversos. Mesmo que muitos inocentes morressem e uma chuva de balas fosse disparada, todos sabiam que os defensores do bem sairiam vitoriosos. "Três homens em conflito", de Leone, mostra o triângulo odioso entre três sujeitos: o bom, o mal e o feio. Durante a trama, eles duelam por um tesouro escondido, havendo momentos de vantagem para os três lados. Resultado: o vitorioso (o bom) é aquele que se aproveita da deslealdade de seus adversários.

Joel e Ethan Coen atualizaram o gênero western e fizeram o faroeste moderno "Onde os fracos não têm vez". Assim como no longa citado anteriormente, há a disputa por uma grande quantidade de dinheiro. Porém, não existe a definição do que é ser leal ou não. Não há mocinhos ou bandidos. Cada personagem impõe a sua própria regra de acordo com o que lhe parece adequado para sobreviver. A aparente loucura de Anton Chigurh (Javier Bardem) é o retrato do mundo doentio em que vivemos, onde só os mais fortes sobrevivem. A bondade religiosa e ponderada do xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) é característica peculiar aos fracos, que sucumbirão ao admirável mundo novo em que vivem.

Dada a proximidade da ficção com a vida real, muitas vezes ela acaba transpondo a hoje tênue tela do cinema, como ocorreu durante essa semana na estréia do filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", no Colorado, nos Estados Unidos. James Eagan Holmes resolveu incorporar a impiedosidade do Coringa, uma das personagens mais complexas já criadas, e atirar em cinquenta pessoas. Foi a prova de que o mal fictício e arrebatador da arte está cada vez mais próximo de nós. E, mais do que nunca, a prova de que vivemos em um mundo perturbador.

2 comentários:

  1. todo mundo tem um lado mau e perverso q um dia pode vir a tona... a maioria se controla e mantém a coisa ruim adormecida, outros por muito pouco fazem o q esse imbecil fez.

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  2. O mundo tá cada vez mais violento, o cinema também. Será coincidência? http://grandeonda.blogspot.com

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