Aviso aos desavisados que o palavrório que se segue é extremamente tendencioso e baseado no fanatismo de alguém que não conhece tudo, mas tudo o que leu foi suficiente para que considerável simpatia fosse despertada. Quem leu ou lê histórias em quadrinhos, fatalmente acaba por eleger a sua personagem favorita. Aqui, falar-se-á do Batman, o eterno vigilante de Gotham City criado por Bob Kane, que tem sido um assunto recorrente nas últimas semanas, graças ao lançamento do filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", fechando (?) a magnífica trilogia dirigida por Christopher Nolan.
Alguns críticos tidos como intelectuais do cinema, cinéfilos que vibram ao ver nomes clássicos como Kubrick, Kurosawa, Truffaut ou Fellini, fizeram de tudo para achar algum defeito no derradeiro filme do contemporâneo Nolan. Claro, a maioria dos cronistas da sétima arte não é leitora de quadrinhos e vêm os super-heróis de modo jocoso. O que poderão acrescentar às suas tão cultas mentes um bando de homens fantasiados? Ainda mais o Batman, que ainda hoje é tido muitas vezes como uma personagem inocentemente destinada ao público infantil. Aí é que eles realmente se enganam.
Batman vai muito além do conceito de vigilante mascarado. É um grande detetive, nos moldes de personagens clássicas da literatura noir, tais como Dupin, Holmes ou Marlowe, o que torna suas histórias igualmente pertencentes a esse gênero literário. Cada roteirista que escreve uma nova trama é obrigado a pesquisar sobre variados assuntos, que vão de golpes de diferentes artes-marciais à utilização de variados e específicos elementos químicos, já que Bruce Wayne não possui poderes sobrenaturais. Edgar Allan Poe, Sir Arthur Conan Doyle e Raymond Chandler fizeram tais pesquisas com os clássicos detetives acima citados, respectivamente. Nomes consagrados no mundo dos quadrinhos como Alan Moore, Frank Miller e, atualmente, Scott Snyder, deram astúcia igualmente humana ao Homem-Morcego.
E foi o fator humano o mais enfatizado por Nolan nos três filmes que dirigiu. Por baixo da máscara que aterroriza os bandidos, há um homem como qualquer outro, que envelhece e sofre com os efeitos de cada batalha travada. Um homem que criou um símbolo de rosto desconhecido. Uma marca que representa a luta pela justiça, assim como em "V de Vingança", de Alan Moore e David Lloyd, que enfatiza um símbolo anárquico. Qualquer indivíduo que vestir o capuz simbolizado pelo morcego representará a luta contra o crime. Nolan, com grande maestria, conseguiu, por meio de seus longas, captar a verdadeira essência das reais agruras contra as quais o Morcego é obrigado a lutar, que não se limitam à insanidade de vilões como o Coringa ou o Duas-Caras, mas se estendem à política corrupta e a ataques terroristas que fazem sua cidade apodrecer.
Recomenda-se fortemente aqui, então, que os filmes "Batman Begins", "O Cavaleiro das Trevas" e "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" sejam apreciados, e que essa apreciação se estenda aos quadrinhos, seu território original, em obras como "O Cavaleiro das Trevas", "Ano Um", "A piada mortal" ou mesmo nas revistas mensais. Será um bom modo de perceber, compreender e entender a intensidade da sombra do Morcego.